São Paulo, sábado, 23 de setembro de 1995
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Lojas parcelam produto barato

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Cresce o número de lojas que anunciam o parcelamento de produtos de baixo valor unitário.
É possível, por exemplo, comprar um ralador de queijo, que custa R$ 1,00, em duas prestações de R$ 0,50. Ou pagar uma caixinha de fio dental, que sai por R$ 1,80 à vista, com dois cheques de R$ 0,90. O primeiro cheque é no ato e o segundo depois de um mês.
"Adotamos essa estratégia para manter o clientela classe C na loja", diz Arab Zakka, diretor da Preçolândia, especializada em utilidades domésticas e presentes.
É que os consumidores de baixa renda não tiveram o orçamento abalado pelos aumentos das despesas com escola, convênios médicos e serviços, o que ocorreu com a classe média, explica.
A empresa, que já vendia em duas vezes sem restrição de valor, decidiu anunciar o parcelamento de mercadorias baratas logo após o Dia das Mães, quando os negócios começaram a minguar.
No Mappin, que desde de setembro 1992 vende em duas vezes qualquer mercadoria, quase todas etiquetas da loja indicam que o consumidor pode pagar em duas vezes ou usar o cartão de crédito.
Sérgio Orciuolo, diretor, diz que a intenção é facilitar o pagamento para que o cliente possa comprar mais produtos.
"As compras parceladas em duas vezes nunca são abaixo de R$ 35,00", diz Orciuolo. Na Preçolândia, o valor médio das venda em duas vezes é de R$ 55,00.
Dificilmente o cliente compra apenas só um produto de baixo valor em duas vezes, diz Frederico Luz, diretor da Lojas Americanas.
A empresa, que tradicionalmente vende à vista, já aceita dois pagamentos na compra de artigos de vestuário. "O consumidor acaba levando mais produtos de baixo valor quando usa o cheque."
Motivo: o primeiro talão do mês é gratuito. Depois, o correntista tem de pagar R$ 0,16 por folha.
Mais margem
"As lojas que financiam a venda de produtos baratos estão apostando no fato de que o consumidor decide comprar só depois que checa se a prestação cabe dentro do salário", diz Nelson Barrizzelli, economista da USP.
Foi exatamente essa lógica de comportamento do consumidor que garantiu o "boom" de vendas do crediário, logo após o Real.
Na opinião do economista, é um bom negócio para o comércio dividir em prestações iguais a venda de produtos baratos.
É que, além de aumentar a velocidade e o volume dos produtos comercializados, a lojas que têm capital próprio, isto é, não se financiam nos bancos, conseguem ampliar a sua margem de ganho na venda de cada mercadoria.
Segundo Barrizzelli, o mecanismo é simples. Ao anunciar, por exemplo, que o preço à vista de R$ 11,00 é o mesmo que em duas vezes de R$ 5,50, o comerciante embute uma taxa de juros de 10%.
Com isso, consegue embolsar um rendimento maior do que se tivesse aplicado o dinheiro no mercado financeiro que paga juros ao redor de 3% ao mês.

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