São Paulo, sábado, 23 de setembro de 1995
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Crise monetária domina cúpula européia

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

Os "grandes temas" que deveriam ser debatidos na 54ª Cúpula Européia foram obscurecidos por uma crise monetária e por atritos de varejo relativos à unificação, ocorridos nos últimos dias.
A cúpula que começou ontem, em Palma de Mallorca (Espanha), foi definida como "informal". Participam apenas chefes de Estado e governo, sem assessorias. Nenhum acordo deverá ser assinado ao final da reunião, hoje.
O objetivo da cúpula era estabelecer um debate livre e sem melindres diplomáticos sobre o aumento do número de países na UE, a perspectiva da moeda única européia e o poder de decisão de cada país num "governo europeu" e em seu sistema de defesa.
Mas os destaques da reunião foram o desenvolvimento da crise entre Alemanha e Itália e as críticas à política européia e nuclear francesa.
No meio da semana, o ministro das Finanças alemão, Theo Waigel, disse que a Itália não tinha condições de participar da unificação monetária -a criação da moeda única, o ECU, em 1999. O governo inglês concordou com ele.
Na sua crítica aos italianos, Waigel estava se referindo às condições impostas pelo primeiro tratado de unificação da Europa, o de Maastricht, de 1992, para a adesão ao sistema de moeda única.
A Itália hoje está muito longe dos limites impostos por Maastricht para a dívida e déficit públicos e inflação e, na avaliação dos bancos centrais europeus, não conseguirá atingi-los até o final de 1996, o prazo estipulado.
Inflação, dívida e déficit fora de controle fazem a moeda italiana flutuar fora dos limites do Sistema Monetário Europeu (SME).
Os italianos acusam os alemães, no entanto, de provocar uma corrida contra sua moeda e seus títulos.
Os títulos do governo italiano pagam mais que os alemães. Se a lira participasse do SME, poderia ser trocada por ECUs, moeda forte e garantida. Caindo de vez fora do sistema (do qual está hoje excluída), os papéis italianos perdem interesse.
Espanha, Grécia e Portugal provavelmente também estarão fora do SME em 1999. O presidente da Comissão Européia, Jacques Santer, disse que "nenhum Estado-membro tem o direito de decidir quem vai participar da união monetária e econômica".
Houve pressão para que Helmut Kohl, chanceler alemão, amenizasse as críticas de Waigel.
Suecos e dinamarqueses, por sua vez, utilizaram a cúpula para se queixar da retomada dos testes nucleares franceses.
A França também teve que ouvir reclamações belgas sobre a recente decisão de Paris de fechar as fronteiras, contra a decisão de liberá-las prevista pelo Acordo de Schengen (assinado por oito países e que deveria vigorar em 1996).

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