São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Entidades reagem a avalanche sem-terra

BRUNO BLECHER
DA REDAÇÃO

Entidades ligadas à defesa dos interesses de fazendeiros e produtores rurais se movimentam para tentar deter a onda de invasões de terra. As táticas de enfrentamento vão desde o confronto jurídico à defesa armada da propriedade.
A CNA (Confederação Nacional da Agricultura), presidida por Antônio Ernesto de Salvo, pensa, por exemplo, em entrar com uma ação direta de inconstitucionalidade junto ao STF (Supremo Tribunal Federal) para conter as desapropriações.
A entidade quer também criar uma cartilha para instruir os proprietários e não descarta nem mesmo o enfrentamento armado se isso for necessário.
Mais moderada, a Sociedade Rural Brasileira (SRB), entidade que congrega 12 mil fazendeiros do país, por exemplo, acredita que é preciso dar tempo ao governo.
"Discordamos de algumas medidas propostas pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) para combater as invasões, como a idéia de se bloquear as desapropriações com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF)", diz Pedro de Camargo Neto, vice-presidente da SRB.
Para Camargo Neto, é preciso dar tempo para se resolver o problema.
"Mesmo porque o governo está se comportando bem diante das invasões", diz.
Ele acrescenta que o Brasil mudou e não há mais espaço para a radicalização nos movimentos.
"O Movimento dos Sem-Terra acredita que o único caminho para a reforma social do campo é a desapropriação e o assentamento", diz.
"Nós achamos que existem outras formas, mais eficazes, de fazer essas reformas e a desapropriação não é a principal delas", diz Camargo Neto.
A SRB, segundo ele, defende que a desapropriação de terras improdutivas deva ser mais utilizada nas regiões onde ocorrem conflitos de terra.
Política agrícola
"A melhor saída para resolver o problema social do campo é uma política agrícola que consiga reverter o êxodo rural, garantindo a renda aos pequenos agricultores e também o acesso à tecnologia", diz ele.
Camargo Neto cita como exemplo as culturas do algodão e do trigo.
Na sua opinião, essas culturas "foram praticamente destruídas pela política agrícola do governo".
"Isto provocou o desassentamento de milhares de pequenos agricultores".
A crise agrícola nesta safra, na avaliação do vice-presidente da SRB, também terá um efeito perverso no campo.
"O governo não tem conseguido manter a terra nem para quem já a tem", diz.
A desapropriação, para Camargo Neto, além de ser um recurso caro, não consegue ser implementada na velocidade adequada para resolver os problemas sociais do campo.

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