São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Bráulio tem 296 apelidos em dicionário

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

O pesquisador Mário Souto Maior, autor do "Dicionário do Palavrão e Termos Afins", uma das principais obras sobre o tema no Brasil, diz que o governo errou feio ao escolher o nome Bráulio para a campanha anti-Aids.
"Qualquer que fosse o nome escolhido, iria incomodar algumas pessoas. Por esse caminho, não havia saída. Foi um erro", diz.
Souto Maior acha que o Ministério da Saúde podia ter adotado um dos 296 apelidos do órgão sexual masculino listados entre os 3.000 verbetes de seu dicionário.
"É um dicionário popular. O Ministério da Saúde, pelo visto, não pesquisou nele", diz.
O apelido preferido de Souto Maior para a campanha seria "bimba", uma forma mais conhecida no Nordeste do país.
A obra de Souto Maior, hoje em sexta edição (editora Record), já vendeu mais de 18 mil exemplares. O pesquisador aguarda a edição se esgotar para atualizar o dicionário com 500 novos termos.
O nome Bráulio não consta da obra. Mas alguns outros nomes próprios são listados como sinônimo do órgão sexual masculino, a saber: Caetano (usado em Portugal), Gregório, Judas e Pantaleão.
"São casos raros. Não recomendaria o uso de nenhum deles numa campanha", diz Souto Maior.
O "Dicionário do Palavrão" é formado basicamente por sinônimos para o órgão sexual masculino, o órgão sexual feminino, homossexuais e prostitutas.
A criatividade do brasileiro é quase ilimitada em se tratando de apelidar o pênis. Só não há apelidos em palavras iniciadas com a letra H. O maior número começa com a letra P: são 64 apelidos, entre os quais pistom-de-capa, ponteiro e pra-ti-vai. Este último, de uso mais corrente no Nordeste.
O escritor Jorge Amado abona o uso de alguns apelidos curiosos, como arame (citado em "Terras do Sem Fim"), ferro (em "Capitães de Areia" um personagem diz: "Já estou com o ferro em brasa"), estrovenga (dito em "Tieta do Agreste") e zebedeu (em "Tocaia Grande").
A inspiração para apelidar o pênis vem dos mais curiosos lugares, como mostram alguns exemplos tirados do dicionário: joaquim-madrugada (usado na Bahia), jequitibá (ouvido no Sul), coluna do meio (Rio), mané-souza (Sul), o-que-luzia-ganhou-na-capoeira (Nordeste) e quiabo (também falado no Nordeste).
Souto Maior, 75, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife (PE), trabalha atualmente num estudo sobre os tabus alimentares do brasileiro, intitulado "Os Mistérios do Faz Mal".
Ele acaba de concluir uma outra pesquisa, chamada "Brasil X Portugal: Aquele Abraço", que reúne 300 anedotas de português e 50 de brasileiro.
(MSy)

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