São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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O Brasil vai bem, obrigado

GILBERTO DIMENSTEIN

A coluna tenta hoje melhorar um pouco o humor do caro leitor. Vou compartilhar uma boa notícia que recebi aqui em Nova York, produzida no 20º andar de um prédio localizado na Sexta Avenida -e que mostra que, apesar de todas as dificuldades, a imagem do Brasil no exterior progride rapidamente. Não é uma questão de vaidade patrioteira, mas de geração de empregos. Dinheiro no bolso.
Raríssimas pessoas aí conhecem o autor de uma frase que é capaz de levar centenas de milhões de dólares ao Brasil. "Vim da minha última viagem ao Brasil mais otimista, escreveu Robert Pelosky.
Entusiasmado, brincou: "Estou pensando até em passar o Carnaval no Rio.
Fácil entender porque esse comentário vale milhões. Robert Pelosky é diretor de pesquisa e estratégia do Morgan Stanley, um dos maiores bancos de investimento dos Estados Unidos. A visão do banco, portanto, influencia o empresariado multinacional, habitualmente desconfiado da América Latina, em geral (e com razão), e do Brasil, em particular (também com razão).
Depois de visitar o país e conversar com pessoas simpáticas e adversárias da política econômica oficial, ele produziu um texto, divulgado semana passada. Reconhece dificuldades e demonstra receios como, por exemplo, o efeito das eleições municipais, já que pelo menos cem deputados são candidatos a prefeito.
Mas, em suma, informa que o Brasil vai bem, melhor até do que se previa, com perspectiva de crescimento e inflação baixa. "Foi o melhor dia que eu passei em Brasília desde que comecei a investigar o Brasil", escreveu Robert.
Como resultado da análise, o banco aumentou a cota de dinheiro para as bolsas de valores no Brasil. "Cresce cada vez mais a confiança no país", diz Francisco Gros, ex-presidente do Banco Central, hoje um dos principais dirigentes do Morgan.
Essa visão é compartilhada por outra poderosa instituição localizada a poucos metros dali, onde se produzem relatórios detalhados sobre o Brasil. Em análise recente, a Salomon Brothers ressalta a queda da inflação e a reversão da balança comercial, prevendo contínuo crescimento. Idéia defendida, em essência, pelo Lloyds Bank.
Imagino que esse tipo de gente não possa ser tachada de irreal ou tomada por um otimismo desvairado. Afinal, os endinheirados leitores de seus relatórios têm ótima memória. Um erro é inesquecível, porque afeta a parte mais sensível do corpo humano: o bolso.
A verdade fria dos dados: o Brasil vai mal justamente onde o governo Fernando Henrique Cardoso é pior. Os índices sociais são vexaminosos e não existe uma ofensiva para amenizar os efeitos do desemprego.
Por outro lado, com a inflação em queda e a perspectiva de a economia crescer até 4% este ano (mais do que a economia americana), o país continua longe ser civilizado, mas vai bem, obrigado.
PS - Chegaram até aqui rumores sobre um movimento para derrubar Pedro Malan. Não deixa de ser original. Até agora caíram ministros da Fazenda porque a inflação subia. Agora, é porque a inflação está caindo. Longe de mim pensar que o eterno candidato José Serra, de olho no apoio dos empresários, não está, em hipótese alguma, alimentando tais rumores.

Na coluna passada, afirmei que o assassinato de Maria Monteiro mostrava que os Estados Unidos têm imensas zonas de barbárie -por isso, não estão aptos a dar lições de cidadania. Noto, entretanto, um exagero nacional. A tentativa de estupro seguida de morte é comum e tem muito menos repercussão.
Gostaria que todos as investigações de assassinatos tivessem aí o mesmo empenho dedicado ao caso de Maria Monteiro. A julgar pelo crescente número de mortes de crianças no Rio ou de homicídios em São Paulo praticados por policiais, temos menos moral ainda para dar lições.

Nas livrarias dos Estados Unidos existe uma bem-humorada versão feminina do famoso dicionário Webster, escrito pela "sra. Webster para corrigir as omissões deixadas pelo marido.
Bebida diet - É o que você compra para acompanhar um saco de batata frita, e depois uma pizza.
Consumo - Atividade destinada a ser executada para gerar produção, emprego e estabilidade econômica. "Querido, eu vou fortalecer a economia".
Criança - O marido quando está gripado.
Discussão - Ocorre quando você está certa, mas ele ainda não descobriu.
Exercício - Subir e descer no shopping center e, eventualmente, descansar para fazer compras.
Ficção - História contada por seu filho adolescente ao chegar tarde em casa.
Fofoca - Inofensivo passatempo, desde que não seja sobre você.
Spray de cabelo - Substância que demora 15 minutos para ser aplicada e mantém o cabelo por 5 segundos.
Menstruação - Termo arcaico. A expressão politicamente correta é "desafio hormonal".
Sexo - Atividade que seus pais fingem que você não conhece até ter 45 anos e três filhos.
Shopping center - Espaço onde mesmo uma mulher sem sentido de direção consegue encontrar seu caminho.
Três - Número mínimo de vezes que você o chama até que ele desvie os olhos do jornal e preste atenção no que você está falando.
PS - Ao lado desse livro na estante, tinha um outro sobre economistas que se aplica muito bem ao Brasil. Uma das frases: "Economista é aquele que faz previsão e depois explica por que não deu certo".

Detalhes da vida pessoal de Fernando Henrique Cardoso animaram uma seleta platéia de intelectuais, quinta-feira à noite, na solene Universidade de Columbia. Numa palestra, o brazilianista Thomas Skidmore provocou sorrisos, quando disse que a TV Globo manteria as despesas de uma suposta ex-amante do presidente na Europa.

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