São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 1995
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Curso na USP discute a relação entre racismo e imprensa no Brasil

DA REPORTAGEM LOCAL

O curso da USP "Racismo e Racistas: a Trajetória do Pensamento Racista no Brasil" discutiu ontem o tema racismo e imprensa.
Cremilda Medina, professora titular de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da USP, disse que a relação entre imprensa e racismo é espelho das contradições sociais. Ela citou o caso do radialista Itamar Alves de Oliveira, condenado pela Justiça por incitação à discriminação racial em agosto deste ano. Ele teria dito, ao narrar um furto, que o autor "só podia ser preto". O jornalista nega ter dito a frase e recorre da sentença.
Sobre o episódio, Cremilda disse que "não se trata de isentar o indivíduo que não freia tais excessos, mas remetê-lo para um processo social em que o produtor-jornalista representa muito mais a ideologia de uma parte da audiência", afirmou.
Ricardo Alexino Ferreira, professor no curso de comunicação social da Unesp, falou sobre o desafio da imprensa em cobrir os 300 anos da morte de Zumbi dos Palmares. Ele citou a Folha como "um dos poucos jornais que tem se esforçado para cobrir o tema". "A Folha escolheu o nome 'Racismo Cordial' para seu caderno especial, o que me leva a pensar se existe algum racismo que seja cordial", disse. "Não julgo a imprensa racista, mas ela tem limitações e esbarra em estereótipos principalmente porque luta contra o tempo ao produzir os textos."
Fernando Conceição, coordenador do Núcleo de Consciência Negra da USP, discordou de Ferreira. "A imprensa é racista", afirmou. "Não há negros trabalhando nos jornais", disse. "A Folha é o único jornal a investir em um projeto de cobertura sobre os 300 anos da morte de Zumbi, mas não sei quais são suas motivações, se é só uma questão mercadológica."

Aulas no auditório do Departamento de História, das 17h às 19h. Tel. 818-3745. Hoje: "Criminalidade Negra e Justiça Penal", Sérgio Adorno

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