São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 1995
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BH ressuscita espetáculo dadaísta

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM BELO HORIZONTE

A Companhia de Dança de Minas Gerais, em sua melhor fase, estreou uma primorosa produção inspirada no balé "Relâche", fantasia dadaísta lançada pelo artista Francis Picabia em 1924.
Em cartaz até hoje, no Palácio das Artes de Belo Horizonte, "Relâche" poderá ser apresentada em outras capitais brasileiras. Produzida para comemorar os 100 anos do cinema, sua execução comprova que a Companhia de Minas Gerais é hoje um dos melhores grupos oficiais do país.
Em 1996, a companhia vai comemorar 25 anos de atividades. Desde 1988 é dirigida por Tíndaro Silvano, autor da coreografia desta versão de "Relâche".
A idéia de encenar "Relâche" foi de Silvano e do compositor Eduardo Álvares, diretor da Fundação Clóvis Salgado, entidade do Governo do Estado de Minas que, além da Companhia de Dança, mantém uma orquestra, um coral lírico, grupos experimentais e um centro de formação artística.
"Tudo começou a partir da música original de 'Relâche', criada por Erik Satie", explica Silvano. "Quanto à coreografia, partimos do zero. Não funcionaria recriar um balé sobre o qual restam apenas registros escritos".
Conservada a música de Satie, Silvano criou uma nova coreografia, que apenas faz citações ao que pode ter sido o balé de Picabia, na verdade atribuído a Jean Berlin (a Picabia coube a concepção geral do espetáculo e a cenografia).
"A partitura marcada por fragmentações é que determinou a estrutura da coreografia. De comum com o original, acredito estar assegurando o nonsense, a irreverência e a alegria de se mover ao sabor das notas tão bem conduzidas por Satie", acrescenta Silvano.
Outro elemento mantido na produção é o filme "Entr'acte", de René Clair, projetado durante o espetáculo. Dos 22 minutos originais desta jóia do cinema mudo, restaram 15, cuja cópia foi cedida à Companhia de Dança pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais.
Ao som das geniais "dessincronias" musicais de Satie, bem executadas pela Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, sob regência de Roberto Duarte, o filme de Clair é uma paródia surreal e divertida sobre os tempos da guerra.
Projetado entre os dois atos da coreografia, serve de contraponto para as cenas do balé, cujos personagens Silvano preferiu envolver num visual mais para os quadros de René Magritte do que para as irreverências visuais de Picabia.
Os bons resultados obtidos na integração da música com coreografia e filme, se completam na cenografia do artista plástico Marco Paulo Rolla, que criou bonecos que estão no teto do palco.
"Procuramos reunir profissionais com abertura suficiente para interpretar 'Relâche', que integra a programação voltada para o século 20 que quero implantar entre os corpos estáveis do Palácio das Artes", diz Eduardo Álvares.
Disposto a ampliar o intercâmbio entre artistas de diferentes formações, Álvares também pretende estimula a troca de experiências com artistas estrangeiros.

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