São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 1995
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Vendas em alta no Natal

ANDRÉ LAHÓZ

A questão do nível da atividade econômica vem sendo marcada por opiniões divergentes e apaixonadas. Há muitas discussões sobre o comportamento atual da economia. Abre-se, portanto, a dúvida sobre como estará a atividade econômica no final do ano.
Em um primeiro momento, o Plano Real propiciou crescimento rápido da renda e do crédito, que fez com que o país iniciasse o ano com um crescimento anual superior a 10%. O Natal de 94 foi um sucesso de vendas.
A análise de que o país crescia rápido demais fez com que fossem adotadas políticas de restrição ao consumo. E, a partir daí, o debate se acendeu.
Crescimento mais lento, desaquecimento, recessão, depressão -todos esses termos foram usados para descrever o que se passava quanto ao nível de atividade até agora.
Os dados mais recentes de vendas parecem indicar uma volta a um nível mais alto de atividade. Cabem, portanto, algumas considerações sobre essa questão, principalmente sobre o comportamento da demanda neste Natal.
Há que se fazer, inicialmente, uma distinção entre o consumo de bens duráveis (como carros, geladeiras etc.) e não-duráveis (como alimentos).
As vendas de não-duráveis devem ser muito elevadas no final do ano. Há quem diga que serão ainda maiores do que no ano passado; sabidamente, um bom Natal.
Há dois motivos básicos para isso, que se relacionam.
De um lado, houve aumento real de salários (o mínimo, por exemplo, teve reajuste de 40% em meados do ano) durante o período. É certo que, com a inadimplência alta no primeiro semestre, essa renda maior foi deslocada para o pagamento de dívidas.
Mas já está ocorrendo uma diminuição no nível da inadimplência. À medida que as pessoas vão "zerando" suas dívidas, podem aumentar seu consumo, o que já parece estar ocorrendo.
Além disso, a inflação baixa preserva quase que na totalidade o nível real dos salários (em economês, desaparece o imposto inflacionário).
Se deve haver aumento no consumo de não-duráveis, há muitas dúvidas sobre o comportamento dos duráveis.
Atualmente, as vendas de eletroeletrônicos estão altas, chegando a bater recordes. Já no caso dos carros, há, certamente, uma grande retração.
Há uma variável fundamental para definir o consumo dos duráveis: os juros. Isso porque são bens comprados a prazo.
Outro ponto é o excesso ocorrido nas compras a prazo no ano passado, que custou caro aos consumidores. Eles devem estar mais cautelosos para não exagerar nas compras neste ano.
Por outro lado, o governo vem promovendo uma diminuição nas restrições ao consumo impostas no início do ano. Os bancos estão com mais recursos para emprestar. E isso já está tendo reflexos nas vendas.
Ainda é cedo para arriscar uma resposta sobre qual lado da balança pesará mais. Mas, novamente, os juros são fundamentais na equação da questão.
Juros nos níveis atuais inibem, certamente, o consumo de duráveis. Mas isso não deve mudar radicalmente o cenário no final do ano. As vendas como um todo no Natal devem ter um desempenho positivo.

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