São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 1995
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Havelange se diz contra a extinção da Lei do Passe

RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Fifa, João Havelange, criticou a proposta para acabar com a Lei do Passe no futebol, feita ministro dos Esportes, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.
O projeto, que será votado no Congresso Nacional, estabelece que o jogador, a partir de seu terceiro ano de profissionalismo, possa negociar livremente sua transferência para outro clube.
Para o presidente da entidade que organiza o futebol mundial, o jogador "estará perdido no dia em que a Lei do Passe acabar".
Atualmente, o jogador no Brasil só ganha parte de seu passe quando se aproxima dos 30 anos.
Até lá, pertence a algum clube, empresa ou pessoa física, dependendo da decisão desses para seu futuro profissional.
"Não existe essa coisa de escravo. Na verdade, com a lei, o profissional está protegido", disse Havelange, se referindo à denominação "escravidão" dada por Pelé à atual legislação do futebol.
O presidente da Confederação Brasileira de Futebol e genro de Havelange, Ricardo Teixeira, concordou com a posição de seu superior hierárquico.
"Os clubes vão deixar de investir na formação dos jogadores. Os únicos beneficiados serão os grandes craques", disse Teixeira.
Havelange e Teixeira estiveram ontem em São Paulo, para a entrega do título "Presidente de Honra" ao empresário e ex-dirigente José Ermírio de Moraes Filho.
Havelange aproveitou sua estadia em São Paulo para criticar os dirigentes europeus e, principalmente, Lennart Johansson, presidente da União Européia de Futebol (Uefa), e candidato à presidência da Fifa.
"Os europeus comandaram a Fifa durante 70 anos e não realizaram o que eu fiz em 20 anos."
Havelange disse que foi o responsável pela popularização do futebol na África e na Ásia.
"Nasci em uma sociedade multicultural, multirreligiosa e multirracial. O que aprendi, apliquei na Fifa", respondeu, indagado sobre a união entre líderes africanos e europeus contra sua administração, que começou em 1974.
Sobre sua permanência na presidência da Fifa, Havelange disse que espera ser reeleito em 1998.
"Não vou me candidatar. Só continuo se me pedirem e eu estiver bem física e mentalmente", afirmou o dirigente, de 79 anos.
Ele aproveitou para dar uma alfinetada em seu rival. "Vamos ver se ele tem coragem de enfrentar uma eleição no congresso da Fifa", disse.
Irritado, reclamou das seguidas críticas feita a ele. "Muito dos problemas que atribuem à Fifa são responsabilidades dos países. As economias nacionais e os políticos atrapalham o futebol", disse. Ele atribuiu a crise financeira dos clubes ao momento econômico do Brasil.

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