São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 1995
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Conforto segura Jô Soares em casa

CELSO FIORAVANTE
DA REDAÇÃO

O apresentador de TV, sempre humorista e agora também escritor Jô Soares (ele acaba de lançar seu primeiro romance, "O Xangô de Baker Street") não lembra sua primeira sessão de cinema. Lembra sim do primeiro livro, "As Caçadas de Pedrinho", de Monteiro Lobato (1882-1948), lido aos sete ou oito anos e que lhe despertou "um mundo maravilhoso".
Mas isso não significa descaso em relação ao cinema. Muito pelo contrário. "Não lembro por que desde criança sou louco por cinema. Me lembro de uma época em que eu estudava na Suíça e que eu ia em férias para Paris, acabava vendo até cinco sessões por dia."
Esta relação cinema-viagem continua uma constante na vida de Jô até hoje por três motivos.
O primeiro deles -positivo- é que suas saídas para ir ao cinema em São Paulo sempre acabam virando uma festa. "Eu gosto do assédio popular. Eu acho que todo artista é um exibicionista, um exibido. E eu adoro esse assédio, pois ele é muito simpático. As pessoas olham para mim sorrindo..."
O segundo -negativo- se refere à geopolítica e às condições físicas das salas na cidade. "Aqui tudo é muito complicado. A maioria dos cinemas agora está instalada em shoppings... Não é esnobismo, mas em Paris ou Nova York você vai a pé a uns 20 cinemas. Existe ainda o cinema de bairro, que é uma tradição que não existe mais por aqui. E a qualidade das salas aqui também é muito precária". Mas não sobram apenas pedras para os cinemas paulistanos. Jô isenta algumas salas, como as do shopping Eldorado e o cine Astor, suas preferidas na cidade.
o terceiro motivo -negativo para os cinemas, positivo para as locadoras- é o conforto de sua própria sala e a comodidade de seus aparelhos de vídeo e videolaser. "É ótimo poder mudar de filme quando ele está muito chato."
Outra vantagem básica e fundamental é o fato de sempre poder rever o trecho preferido, mesmo para aqueles totalmente avessos à tecnologia.
Não é o caso de Jô, que fez isso recentemente com "Amor à Queima-Roupa" (True Romance), de Tony Scott. "Este filme tem uma cena que eu considero uma das maiores do cinema: a do diálogo entre Cristopher Walken e Dennis Hopper. É uma obra-prima. Está perfeito, no tom certo. Eles brincam e brigam com o texto sobre a origem dos sicilianos. São dois grandes atores e um grande diretor. E um roteiro maravilhoso".
Com um bom vídeo pela frente, Jô sequer sente falta do clima da grande sala e dos eventuais problemas que a transposição para a pequena tela acarretam. "Eu consigo abstrair. É possível se adaptar e curtir. E em videolaser, que a qualidade é excelente, melhor ainda".
Com o cinema, sua relação não é apenas de espectador. Não foram poucas as vezes que Jô se viu na frente e até atrás das câmeras. Sua estréia foi em "O Homem do Sputnik", de Carlos Manga, em 1959. Trabalhou ainda com colegas de riso, como Golias, Grande Othelo e Ankito. "Também fiz um filme cult underground, do Zé Agripino, 'A Coisa, O Tarzan do Terceiro Mundo', em que eu interpreto um samurai explorador de mendigos. Fiz uma porção de participações de curtição em vários filmes". Recentemente, também pode ser visto em "Sábado", de Ugo Giorgetti.
Mas underground mesmo é sua experiência como cineasta. Jô escreveu, atuou e dirigiu "O Pai do Povo", em 1975. "Foi lançado no Carnaval. Ninguém viu ou soube de sua existência".

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