São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 1995
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Que não sirva de pretexto

O aumento de 11,1% a 13% no preço dos combustíveis pode ter algum impacto sobre a inflação. Mas a medida, anunciada anteontem pelo governo, dificilmente afetará os índices de modo significativo, se os prefeitos -que já endossaram um vultoso aumento das tarifas de ônibus quando o preço do óleo diesel estava parado- não cederem à possível e provável pressão das companhias de ônibus por uma nova majoração das passagens.
Na cidade de São Paulo, por exemplo, as companhias de transporte urbano justificaram em julho o pedido de aumento de 30% apresentando planilhas nas quais o combustível representava apenas 8% dos custos. Sendo assim, a elevação do diesel em 11,1% implica adicionais absolutamente desprezíveis, de irrisórios 0,89%.
Considerando-se que a inflação desde o início do Plano Real foi de 39,2%, segundo o IPC da Fipe, e de 32,1%, segundo o IGP-M da FGV, a majoração anunciada pelo governo não parece excessiva. Ainda que a valorização do dólar tenha mantido os combustíveis importados a um preço baixo, salários e outros custos internos subiram. E o governo faz bem em não usar a defasagem artificial de tarifas públicas como meio de combate à inflação.
De modo geral, mesmo que suba em certa medida o custo do transporte de cargas, um pequeno aumento do frete não deve servir de pretexto para elevações gerais de preços. Há no Brasil inúmeros setores cujas margens foram infladas, seja pelo hábito da indexação, seja pelo aquecimento da economia no final de 94 e início deste ano.

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