São Paulo, terça-feira, 2 de janeiro de 1996
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Bloco amplia fluxo comercial na região

SILVANA QUAGLIO; EDUARDO BELO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Mercosul (Mercado Comum do Sul) ainda tem duros acertos pela frente, mas já é uma realidade incontestável. A conclusão é de empresários, acadêmicos e funcionários do governo que acompanham o processo de formação do bloco comercial.
O comércio entre os quatro membros (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) cresceu. Na média dos cinco anos anteriores à formação do bloco (1985 a 1989), os integrantes movimentavam 16,2% de suas importações e exportações na região. Esse número passou para 28,8% na média de 90 a 94.
Antes da formação do bloco, em 1990, as exportações destinadas aos atuais parceiros correspondiam a somente 8,5%.
Neste primeiro ano de união aduaneira, o crescimento da corrente de comércio foi ainda maior, afirma Michel Alabi, vice-presidente da Associação Brasileira de Empresas para o Mercosul.
No bloco, as exportações brasileiras passaram de US$ 4,3 bilhões, de janeiro a setembro de 1994, para US$ 4,6 bilhões, no mesmo período de 1995. As importações dispararam: de US$ 2,8 bilhões para US$ 5,1 bilhões -um crescimento de 82%.
Em relação à Argentina, as exportações brasileiras se mantiveram estáveis. Mas as importações cresceram 86%. De cada US$ 100 que o Brasil gasta comprando produtos e serviços do Mercosul, US$ 83 vão para a Argentina.
Em 1989, 10% das exportações argentinas eram para o Brasil. Agora são 34%. É um crescimento além das expectativas, avalia Luís Alberto Moniz Bandeira, professor de economia da Universidade de Brasília.
Em fórum realizado em novembro, em São Paulo, Bandeira ressaltou que a união aduaneira -apesar de "imperfeita"-, já "apresentou em pouco tempo extraordinário resultado".
Empresas
A união aduaneira também levou as empresas a adotarem a binacionalidade. Segundo Alabi, desde 1991, 400 empresas brasileiras abriram filiais ou joint ventures na Argentina. Só em 1995, cerca de cem empresas se deslocaram para o país vizinho.
No mesmo período, cem companhias argentinas se instalaram no Brasil -sendo 40 em 1995.
As empresas vão buscar em solo argentino, principalmente, vantagens comparativas para a produção. Os argentinos dispõem de mão-de-obra em alguns setores mais qualificada, importações mais baratas -graças à menor carga tributária- e legislação mais atrativa ao investimento estrangeiro -não há Imposto de Renda sobre a remessa de dividendos, por exemplo-, diz Alabi.
Agressividade
Os principais setores que migraram do Brasil são os que encontraram maiores vantagens nesse aspecto: químico, alimentos, calçados, metalurgia, material de transporte, construções e consultorias econômicas, administrativas e financeiras -segmento em que o know-how brasileiro é maior.
Os argentinos, ao contrário, vêm ao Brasil em busca de mais agressividade nos negócios. "O brasileiro aprendeu a não esperar pelo governo e por isso tem mais jogo de cintura no mercado", afirma Alabi.

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