São Paulo, terça-feira, 2 de janeiro de 1996
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Sem-terra deixam assentamentos de Covas

LUIZ MALAVOLTA
DA AGÊNCIA FOLHA, NO PONTAL DO PARANAPANEMA

Os sem-terra assentados pelo governo do Estado no Pontal do Paranapanema em uma "operação de emergência" estão abandonando as áreas. Os assentamentos foram feitos na sexta-feira, sábado e domingo passados.
A Agência Folha esteve ontem em dois desses assentamentos e confirmou o fato. As 94 famílias assentadas na fazenda Arco-Íris, em Mirante do Paranapanema (640 km a oeste de São Paulo), abandonaram o local poucas horas após terem sido deixadas nas terras.
As barracas de lona montadas pelos sem-terra estão abandonadas e vazias. As barracas foram feitas sob árvores e no meio de um pasto. Ivan Bueno, da coordenação estadual do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que esteve ontem no local, disse que isso "já era previsível".
"O governo do Estado jogou essas pessoas neste local como atira animais, não dando condições para elas ficarem aqui. Não há nem estrada de acesso à área e muito menos água para elas consumirem", afirmou Bueno.
A Folha tentou falar ontem com secretário da Justiça de São Paulo, Belisário dos Santos Júnior, responsável pela negociação com o MST. Deixou recados em sua residência e em seu telefone celular. Não teve retorno.
Em outro assentamento, com 110 famílias, na fazenda Canaã, também em Mirante do Paranapanema, continuavam ontem no local menos de 20 pessoas. O assentado José Pereira da Silva, 56, disse que as pessoas "não abandonaram" a área, mas "foram cuidar de seus interesses na cidade".
Outro trabalhador assentado Alfredo Jacintho, 52, disse que muitas barracas estão fechadas porque as famílias descobriram que não teriam comida para dar aos filhos.
"Essas pessoas foram embora atrás de comida. Se vão voltar, é outra história. Se não houver nenhuma assistência, todos vão abandonar a área, porque podem morrer aqui abandonados", disse.
Antônio Augustinho de Oliveira, 70, também assentado, disse que os funcionários do governo do Estado prometeram retornar hoje à área para "ajudar". O líder do MST no Pontal, José Rainha Jr., acusou o governo do Estado de "irresponsabilidade" na forma como fez o assentamento na região.
O Instituto de Terras do Estado de São Paulo, responsável pelo assentamento, informou que em três dias remanejou e colocou em 5.000 hectares um total de 1.278 famílias. Para Rainha, não foram remanejadas "nem 200 famílias".
"O que o governo Covas fez foi acirrar ainda mais a situação no Pontal. Vai colocar em situação de confronto fazendeiros e sem-terra", afirmou Rainha.

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