São Paulo, terça-feira, 2 de janeiro de 1996
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Governo deve R$ 3,2 bilhões para o FAT

SHIRLEY EMERICK
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo já deve R$ 3,2 bilhões ao FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). A União usou esses recursos para resolver os problemas de caixa da área da saúde, Petrobrás e agricultura.
Criado inicialmente para bancar o programa de seguro-desemprego e abono salarial, o fundo teve seu objetivo inicial desviado para tapar alguns dos rombos.
Até a Constituição de 1988, os trabalhadores demitidos sem justa causa recebiam um auxílio-desemprego, pago pela Previdência.
Os parlamentares decidiram então criar o seguro-desemprego, bancado com recursos do PIS/Pasep (contribuições sobre o faturamento das empresas e sobre a receita dos governos).
Em 1990, o ex-presidente José Sarney destinou toda a arrecadação do PIS/Pasep para o FAT, expandindo sua destinação também para o abono salarial e programas de desenvolvimento econômico.
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ficou com uma parcela de 40% da arrecadação, para estimular esses projetos.
Em 91, quando o fundo começou a registrar superávit (receitas maiores que despesas), o governo usou o saldo para tapar um buraco nas contas do extinto Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social).
O conselho deliberativo -que administra os recursos do FAT- autorizou o empréstimo de US$ 240 milhões.
No ano seguinte, o governo voltou a pedir recursos -US$ 630 milhões, para acabar com outro rombo do instituto previdenciário.
Também em 92, o conselho decidiu abrir uma linha específica, de US$ 95 milhões, para a compra de tratores.
A idéia era criar alguns programas para investir o saldo positivo do FAT e, assim, evitar que mais recursos fossem desviados.
Mas, já em 1993, o governo pegou mais US$ 620 milhões para socorrer o Inamps.
Nesse ano, o conselho do FAT criou no BNDES linhas especiais de financiamento para os setores agrícola, automotivo e naval.
A idéia do conselho era investir em segmentos econômicos com maior capacidade de geração de emprego e renda.
Só que, para financiar o setor naval, o FAT foi obrigado a ajudar a Petrobrás.
A empresa tinha um casco de um grande navio em construção no Rio. Como não tinha recursos para completar a obra, a Petrobrás abandonou o navio.
O CMN (Conselho Monetário Nacional) aprovou, então, a alocação de recursos do FAT para a Petrobrás terminar as obras.
Depois disso, o fundo passou a financiar o setor naval, para estimular a exportação. O setor recebeu ao todo US$ 240 milhões.
No ano passado, o FAT renovou os empréstimos com a agricultura e liberou outros R$ 330 milhões para o setor.
No início de novembro, o governo editou outra MP para emprestar R$ 1,2 bilhão para pagar despesas do SUS (Sistema Único de Saúde). Do total emprestado à saúde nos cinco anos, ainda resta uma dívida de R$ 2,2 bilhões.

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