São Paulo, quarta-feira, 3 de janeiro de 1996
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Governo nega abandono de lotes por sem-terra

ANA MARIA MANDIM
DA REPORTAGEM LOCAL

"Não nos cobrem reforma agrária cinco dias depois do início de um assentamento", disse ontem o secretário da Justiça, Belisário dos Santos Júnior, em resposta às críticas do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) ao assentamento de famílias em Mirante do Paranapanema (640 km a oeste de São Paulo).
O MST afirmou que as famílias foram "atiradas como animais" em fazendas sem estradas de acesso e sem água potável. E, por isso, segundo o MST, muitos sem-terra abandonaram seus lotes.
A reportagem da Folha constatou que em duas fazendas -Arco-Íris e Canaã- a grande maioria das famílias não se encontrava no assentamento. As barracas de lona armadas pelos sem-terra estavam vazias.
A diretora de Assentamento do Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo), Tania Andrade, que está em Mirante do Paranapanema e passou o réveillon lá, negou o abandono dos lotes.
"O que acontece", disse ela, "é que os homens chegam primeiro para tomar posse da terra. Depois, voltam para buscar a família e os pertences", afirmou.
Em setembro de 1995, o governo do Estado fez um acordo com o MST para assentar 1.050 famílias até 31 de dezembro, mais 525 até março e outras 525 até junho.
O governo cumpriu a primeira etapa do acordo na última semana do ano. "A Justiça só nos concedeu liminar de posse no dia 28, véspera do Ano Novo", justificou Santos Júnior.
Água
A diretora do Itesp disse que dentro de uma semana as famílias assentadas no Mirante já deverão dispor de água para beber.
Ela pediu à Prefeitura de Mirante do Paranapanema e à Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) que enviem caminhões-pipa.
"Também vamos abrir estradas e cavar poços", disse Tania Andrade. "Todos os assentamentos têm nascentes", disse ela.
Junto com ela trabalham 15 técnicos da seção regional do Itesp no Pontal do Paranapanema. Outros cinco, de São Paulo, especialistas em planejamento, estavam sendo esperados hoje na área.
Com o assentamento, segundo Santos Júnior, as famílias poderão receber crédito do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Foram "remanejadas" ao todo 1.278 famílias, das quais 261 receberam lotes definitivos.

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