São Paulo, quarta-feira, 3 de janeiro de 1996
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Boca livre; Universidade pública; Que democracia?; República da USP; Futebol; Craque do Pará; Boas festas

Boca livre
"As multinacionais distribuidoras de derivados de petróleo, apesar da boa reação ao anteprojeto de regulamentação do setor, pretendem que seja incluído um importante detalhe que possibilitará importação de derivados em condições competitivas com a Petrobrás: o 'livre acesso'. 'Livre acesso' significa que as distribuidoras poderão utilizar o parque de tancagem e dutos da Petrobrás. Isto é, entrar no mercado sem investir. O governo federal pode determinar o 'livre acesso'. Mas estará indo de encontro ao seu discurso de maior competitividade, pois estará favorecendo as distribuidoras que querem ingressar no mercado de importação sem infra-estrutura. Se as distribuidoras querem conquistar o mercado, terão de investir. Não vale o raciocínio de que as instalações seriam duplicadas, pois atualmente a Shell, Esso e Texaco detêm 40% do mercado de distribuição, portanto, teriam de construir tancagem proporcional a sua capacidade. Com unidades ociosas no Caribe, Golfo do México e Venezuela, será economicamente viável importar. É previsível que surjam declarações de que isso seria uma prática comum em países economicamente desenvolvidos. Quando se trata da utilização do patrimônio público a serviço do setor privado, as comparações superficiais são bem-vindas -sendo puramente sofismas."
Alexandre Gomes, diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobrás -Núcleo da Bahia (Salvador, BA)

Universidade pública
"Sereno, discreto e marcante o articulista Josias de Souza se destaca no cenário Folha, só que, às vezes, coloca os pés pelas mãos. Josias deveria se vestir de múmia para visitar os templos obscuros dos volumosos negócios da educação superior privada do país. Lá, com certeza, não faltam escuridão, coringas e pinguins. Rogamos ousadia: respeite as gerações futuras, defenda a universidade pública! Afinal, múmias nunca querem aparecer neste Brasil, apesar de todos reconhecerem sua existência."
Sergio José Custódio, 1º diretor de universidades públicas da UNE (Campinas, SP)

Que democracia?
"Sou professora de 2º grau. Discuto com meus alunos acontecimentos da vida social e política brasileira. Após o impeachment do ex-presidente Collor, ficou difícil sustentar a tese de que a democracia se alicerça na divisão e independência de seus poderes, que beneficiariam a sociedade em sua coletividade. A dificuldade se devia a algumas constatações: 1) o ex-presidente teve apenas punição política; 2) apenas dois dos implicados (PC Farias e Jorge Bandeira) foram condenados; 3) a condenação não incluiu ressarcimento de danos causados ao Estado; 4) o detento PC Farias gozou de regalias e privilégios durante seu cárcere. Agora temos a notícia de sua libertação condicional. Enquanto isso, há pessoas que por atos isolados amargam cárceres desumanos. Ao dar minhas próximas aulas, devo falar que pessoas que intencionalmente se organizam e se armam contra a nação são menos perigosas do que o delinquente comum, merecendo por isso uma solidariedade e consideração mais benevolente de nossa parte?"
Dolores Nunes (São Carlos, SP)

República da USP
"Na qualidade de professor aposentado da USP, animo-me a escrever após acontecimentos que considero desastrosos para a instituição à qual dediquei metade de minha vida útil. Educar significa ensinar, dispor de professores que conheçam a língua pátria. Pois é, a nota de corte para letras na USP foi 54 no último concurso da Fuvest, a antepenúltima no cômputo geral, abaixo de educação física e ciências da terra (55), sem qualquer demérito para as disciplinas. Na mão de quem está o futuro do Brasil? Na mão de músculos anabolizados e cultura de minhocas. E a língua portuguesa? Bem, esta vai às favas (sem referência ao sr. reitor). Semana passada, numa de minhas andanças pelo 'campus', encontrei uma pasta. Abri-a. Havia uma ata de reunião do conselho de um departamento de letras. Fiquei abismado. Os professores de letras não são mais docentes, são cientistas, pensadores-viajantes, sacrificados e destinados a percorrer as Américas e a Europa à procura de sabedoria, para transmitir a quem? Nem a USP sabe. No alto de sua autonomia constitucional, concede, permite, aceita planos de pesquisa de total desinteresse e fora de propósito. Numa publicação, que encontrei na mesma pasta, um professor relacionava os títulos de quatro palestras de sua autoria e informava o número do telefone para universidades interessadas. Uma espécie de massa pré-cozida. Que vergonha! Não é sem razão que a USP discorda da emenda governamental 233/95 que prevê a regulamentação, em lei ordinária, do art. 207 da Constituição que trata da autonomia universitária. O que vai acontecer com a República USP dentro da República Federativa do Brasil?"
Antenor Rodrigo de Lima, professor aposentado da USP (São Paulo, SP)

Futebol
"Essa última partida da final do Brasileiro (Santos e Botafogo) para mim foi a gota d'água. Por mais que o juiz seja bom, ele é humano e comete erros. Cabe a nós tentarmos diminuir as possibilidades dos erros. Seguem algumas idéias: por que não ter dois juízes? Com microfones e fones de ouvidos? Quando houvesse dúvida, o juiz pararia o jogo e com a ajuda do computador daria o veredicto! O jogo seria de 25 ou 30 minutos de bola corrida. Quando o juiz apitasse, pararia o cronômetro. Deveria haver dois bandeirinhas de cada lado e mais um atrás do gol. Tá bom! Talvez seja uma maneira meio germânica ou nipônica, no entanto menos injusta. Dou meus parabéns às duas equipes, que foram as melhores".
Velú Antônio Gouveia (Barretos, SP)
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"Cabralzinho, você é o grande campeão, o supercampeão; 'sozinho', mas com a ajuda de um time mediano, com um craque que é o Giovanni. Sozinho porque você foi tudo para esse time, deu equilíbrio e um show de técnica, tática e estratégia. Jogar uma final de Brasileiro com seis atacantes contra um time como o Botafogo é uma aula indescritível, jamais vista (nem na era Pelé). E o ridículo Matinas Suzuki Jr. ainda dizer (Folha, 19/12) que você posicionou mal esses jogadores é de uma burrice sem medida e acrescentar que o Botafogo ficou merecidamente com o título, sem comentários! Acompanho futebol há 30 anos, acho que tenho uma certa perspicácia para enxergar as verdadeiras genialidades, e neste campeonato com este time você mostrou a sua: eles jogaram tudo e mais um pouco. Um abraço santista para o mestre do time campeão."
Paulo Thome (Mirassol, SP)

Craque do Pará
"Meus amigos, meus inimigos: venho protestar por em momento algum, em seu artigo de 12/12, mecê ter mencionado que Giovanni é paraense. Mestiço de índio com branco mameluco. Giovanni, don Matinas, é o segundo craque que sai do Pará nos últimos 3.000 anos. O primeiro foi Quarentinha, que ficou célebre no Botafogo. Peço que em sua próxima crônica limpe sua barra com a população do Pará. Recebi ligações de parentes de Belém que falaram de seu descaso para com o sentimentalismo amazônida. O Giovanni, cujo nome italiano não esconde sua origem amazônida. Seu nariz lembra os índios atroaris, que mataram o padre Caleri. Giovanni quer matar a 'Estrela Solitária'. Fica o meu protesto."
Jorge Baleeiro de Lacerda (Francisco Beltrão, PR)

Boas festas
A Folha retribui as mensagens de boas festas que recebeu de: Mizael Matos Vaz, presidente da Abrapp -Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Privada (São Paulo, SP); Silvia e Getúlio Hanashiro, ex-secretário da Saúde do Município de São Paulo (São Paulo, SP); Fernando Milliet, presidente da Seguradora Soma e ex-presidente do Banespa (São Paulo, SP); Grupo Sadia (Barueri, SP); Fernanda Vendramini, do setor de Marketing e Comunicações do Excel Banco; Jeannine Leal, gerente de comunicação da João Fortes Engenharia S.A. (Rio de Janeiro, RJ); Gilberto Leal, da Lumière Latin America (Rio de Janeiro, RJ); Sulamericana Industrial Ltda. (Mogi Mirim, SP); Abramides (Campinas, SP); Paulo Cesar Antunes Salles, da Salles DMB&B (São Paulo, SP); Maria Lúcia Prandi, deputada estadual pelo PT (São Paulo, SP).

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