São Paulo, quinta-feira, 4 de janeiro de 1996
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Caixa comemora dez anos da Def Jam

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

A gravadora Def Jam foi a primeira em muitas coisas, durante seus dez anos de história. Acaba de ser de novo, com o lançamento de "The Def Jam 10th Anniversary", a primeira caixa de CDs do hip-hop.
Se alguém tem dúvidas sobre qual é a principal gravadora de rap é só ouvir os quatro CDs da caixa. Se bem que rap é um termo restritivo para definir a importância da Def Jam.
A gravadora foi o som da América nos anos 80, assim como a Sun foi nos 50 e a Motown, nos 60.
A Def Jam foi fundada por Rick Rubin e Russell Simmons com meros US$ 4.000. Virou um império, que hoje inclui subdivisões de TV, cinema e moda.
Clássicos
LL Cool J tinha só 16 anos ao se tornar o primeiro artista da gravadora. Mas seu início de carreira foi marcado por clássicos que ainda hoje levantam pistas.
Representados na caixa, "Rock the Bells", "I Can't Live Without My Radio" e "I'm Bad" são puro rock'n'roll.
A proposta da Def Jam era unir rock e hip-hop. Dessa mistura surgiu The Beastie Boys. Seu álbum "Licensed to Ill" foi o primeiro disco de rap a chegar ao cume das paradas, em 1987. Só perdeu, até hoje, para MC Hammer em vendagem no estilo.
Os Beasties ficaram mais velhos, mudaram de gravadora, mas "Fight for Your Right" nunca foi superado em seu estilo cervejeiro de resumir a adolescência.
A maior ironia da Def Jam é que o branco e judeu Rubin teve que implorar para Chuck D montar o Public Enemy, a banda mais engajada do rap -a primeira a mencionar o líder muçulmano Farrakhan, o que colocou Rubin na lista dos inimigos dos judeus.
Uma recente votação na Internet elegeu o álbum "It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back" (1988), do Public Enemy, como o melhor disco de rap da história.
No mundo branco, o livro "Alternative Record Guide", da revista "Spin", qualificou o mesmo LP como o segundo mais importante disco "alternativo" de todos -atrás apenas do álbum de estréia dos Ramones.
Public Enemy é o grupo melhor representado na caixa da Def Jam. São 11 faixas, de "Public Enemy Nº 1" (1987) a "Give It Up" (1994), passando pelos clássicos, como "Bring tha Noize" e "Don't Believe the Hype".
Há, ainda, o grupo branco 3rd Bass, que ficou famoso por um clipe em que enchia Vanilla Ice (interpretado, no vídeo, por Henry Rollins) de porrada; EPMD, dupla pioneira no uso de bases tiradas do funk de George Clinton; e Slick Rick, o primeiro rapper condenado por assassinato.
A fase atual da Def Jam está representada por Redman, Method Man (do Wu-Tan Clan), Warren G (que faz um som californiano, chamado g-funk), Onyx (que introduziu, em parceria com grupos de metal, a dança agressiva chamada, aqui, de "bate cabeça") e o baladeiro Montell Jordan.
Rick Rubin deixou a Def Jam quando Russell Simmons ficou incomodado com a contratação do grupo de heavy metal Slayer, em 1988.
Rubin, por sua vez, não suportava os artistas de pseudo-soul, como Oran "Juice" Jones.
Sem Rubin, a Def Jam perdeu seu rock. Agora, é número um com Montell Jordan e a parceria romântica entre Method Man e Mary J. Blige.
É curioso reparar como um ex-vice-presidente da gravadora, Andre Harrell, foi parar na chefia da Motown.
"The Def Jam 10th Anniversary" é um capítulo fundamental da história musical americana.

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