São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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É o fim da oposição?

A conquista da democracia teve também a vantagem de assegurar a liberdade de exposição das carências sociais do país que ainda hoje obstaculizam a entrada do Brasil no mundo desenvolvido.
Porém, 17 anos após a volta do pluripartidarismo, o sistema político parece não mais dispor de legendas oposicionistas consistentes e atuantes na atividade parlamentar. Um observador desatento imaginaria até que as complexas demandas populares subitamente foram satisfeitas pelo governo FHC -o que obviamente não aconteceu e nem poderia acontecer.
São especialmente significativos os eclipses do PT e do PDT no cenário político. A projeção da legenda brizolista tem dependido muito de seu principal líder. Era previsível, desse modo, que as derrotas de Brizola nas eleições de 89 e 94 atingissem fortemente o partido.
Já o PT, enfraquecido sem Lula na liderança nacional, parece ter dificuldades para abandonar o perfil classista e assumir uma atitude propositiva e negociadora. Sofre, além disso, o desgaste de disputas internas que lhe têm tirado o fôlego para reformular seu projeto político.
Por fim, contando com apenas 6% dos senadores e 9,5% dos deputados, o Partido dos Trabalhadores tende a continuar formando frentes com outras legendas de esquerda, como PC do B e PSB, que, aliás, também não souberam atualizar seus discursos. A história nacional, entretanto, tem mostrado que, frente à necessidade de abandonar o viés negativista e assumir responsabilidades, as frentes partidárias invariavelmente esfacelam-se.
Que a inapetência das oposições não acabe resultando numa triste ausência de discussões. O saudável embate pluripartidário sempre fertilizou as verdadeiras democracias.

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