São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DNA pode contar história de povoamento

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma mudança simples no material genético pode ajudar a traçar a história da ocupação da América, sugere estudo publicado hoje na revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA.
Cientistas da Universidade Stanford (EUA) descobriram que uma única substituição de um dos quatro "tijolos" que formam os cromossomos poderia ter originado a diversidade encontrada nos povos americanos atuais.
A espécie humana possui 46 cromossomos, estruturas celulares que contêm as informações que são passadas de uma geração a outra. Dois desses cromossomos -o X e o Y- são chamados sexuais, por determinar o sexo.
O homem possui em suas células um cromossomo X (que vem da mãe) e um Y (que é passado pelo pai), sendo chamado XY. Já a mulher tem dois cromossomos X nas células e é chamada XX.
Os cientistas estudaram o cromossomo Y, que passa de pai para filho, para avaliar a "idade" das populações nas Américas.
A estimativa se baseia no princípio de que substituições (mutações) nos cromossomos Y são proporcionais ao tempo. Assim, quanto menor o número de mutações na população, mais próxima ela está de um ancestral comum.
A equipe, liderada por Luca Cavalli-Sforza, estimou que a substituição de um dos "tijolos" (nucleotídeos) por outro teria ocorrido há cerca de 30 mil anos.
Os pesquisadores dos EUA sugerem que a linhagem que originou as populações americanas teria, portanto, começado a divergir de uma linha ancestral única há pelo menos 30 mil anos.
Os pesquisadores usaram um técnica conhecida como PCR (sigla para "reação em cadeia de polimerase") para analisar amostras sanguíneas de 173 humanos e seis macacos dos cinco continentes.
Com o PCR, espécie de "xerox" genético, é possível obter milhões de cópias de DNA.
Os cientistas usaram um tipo de PCR que permite "visualizar" apenas um trecho escolhido, já que esse trecho é reproduzido milhões de vezes.
Segundo o estudo, 123 humanos e os seis macacos com origem não-americana ainda tinham o "tijolo" C (sigla para a substância citosina) em seu cromossomo Y.
Entretanto os resultados mostraram que 90% dos nativos sul e centro-americanos, 50% dos índios navajos norte-americanos e 67% dos esquimós estudados já tinham a mutação, que substituiu o "tijolo" C pelo T (sigla para o nucleotídeo timina).
Segundo os cientistas, os resultados mostram que provavelmente americanos e esquimós tiveram uma origem comum, a partir de populações não-americanas.
Também sugerem que as populações não-americanas e macacos tinham ancestrais comuns.
Segundo os cientistas, a análise de mutações no cromossomo Y pode ajudar a descobrir novas pistas para o origem do homem americano e identificar como a mistura das populações hispânica e indígena gerou grande diversidade.
Alguns defendem que o homem atravessou o estreito de Bering numa das glaciações e chegou às Américas pelo Alasca entre 15 mil e 30 mil anos atrás. Outros contestam essas datas.

Texto Anterior: MST enfrenta resistência das famílias sem terra
Próximo Texto: Cromossomo Y é ideal para estudo da evolução
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.