São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 1996
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Divórcio inconfessado

JANIO DE FREITAS

Tudo o que tem saído sobre a pretensa aliança do PSDB com o PPB de Maluf e o PTB, formando na Câmara a maioria de 204 deputados, tem uma tradução simples, mas ainda omitida: o projeto dos peessedebistas é desfazer-se de sua aliança com os pefelistas tão logo estes acabem de conduzir as reformas no Congresso.
A este projeto deve ser debitada boa parte das estocadas peessedebistas, inclusive ou sobretudo as do próprio presidente Fernando Henrique, no PFL e em suas principais figuras. A divulgada pacificação, depois que o presidente chegou ao confronto direto com o presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães, é apenas um interregno: a aceleração antipefelista foi precipitada e, se não contida, resultaria em problemas para o governo nas votações parlamentares, já na convocação extraordinária do Congresso ontem iniciada.
É o projeto de divórcio que explica, também, o intenso noticiário, só há poucos dias abrandado, sobre a designação de um coordenador político para o governo, com insistência por situá-lo no Gabinete Civil do Planalto em lugar de Clóvis Carvalho. Ainda que chegando à reportagem política por vias indiretas (nem sempre), o noticiário sobre o coordenador originou-se da pretensão do ministro Sérgio Motta de assumir o Gabinete Civil. Propunha-se, como ideólogo do rompimento, a usar no Gabinete Civil o seu conhecido estilo (ou falta de) para desenvolver a operação de divórcio.
Este foi o motivo do silêncio guardado por Sérgio Motta durante toda a fase aguda do grampo, do Sivam e da pasta rosa, evitando suscitar novas resistências ao seu objetivo. Bastaram, porém, as de Fernando Henrique, que, ao chegar do "tour" asiático, mais uma vez reafirmou que se considera o coordenador conveniente. Sérgio Motta continua como um dos coordenadores do divórcio, senão o principal.
O PPB só tem a ganhar com o projeto do governo, quaisquer que sejam os termos do acordo de Fernando Henrique com Paulo Maluf. A adesão do PTB é apenas natural, pois que o partido está sob a condução do ministro da Agricultura, Andrade Vieira. Mas o PMDB, nada tendo a ver com o plano do divórcio, é que passa a gozar de uma valorização inesperada.
Se, em resposta a uma nova aliança governista, alia-se ao PFL e os dois configuram um bloco desligado de todo do governo, podem superar sua inferioridade de 19 deputados com a atração dos oposicionistas declarados. Os peemedebistas passariam a integrar a maioria dominante da Câmara, tendo já a do Senado. A outra hipótese seria a compensação de mais cargos do PMDB no governo, para que não se alie ao PFL. Hipótese menos provável, porque o alvo seguinte do comando peessedebista, quando (e se) enfraquecidos os pefelistas, é o PMDB.
O plano Motta/Fernando Henrique tem dois pontos fracos: o divórcio teria que ser litigioso e os peessedebistas são ruins de política, mas os pefelistas, não.
Explicitude
Presidente do PPS, um dos partidos dos ex-comunistas, diz o senador Roberto Freire que, se entregue o Ministério da Saúde ao seu deputado Sérgio Arouca, o partido retribui incorporando-se à bancada governista.
Os outros fisiologistas costumam preservar algum pudor, sempre negando que estejam trocando cargos por apoios.
Esclarecimento
Em vários jornais, um anúncio inclui meu nome entre os professores do Curso de Extensão em Políticas Públicas e Governo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A inclusão é imprópria. O convite para o curso do ano passado não passou de convite e o curso deste ano nem chegou a isso.

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