São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Calmon de Sá poderá sofrer indiciamento

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR; DA SUCURSAL DO RIO

Investigação do BC aponta para supostas irregularidades que caracterizariam crime do colarinho branco
Resultados preliminares das investigações feitas pelo Banco Central acerca de eventuais irregularidades cometidas no Banco Econômico indicam que seu ex-controlador, Ângelo Calmon de Sá, poderá ser enquadrado na Lei do Colarinho Branco -que trata de crimes contra o sistema financeiro.
Entre os crimes previstos pela lei, Calmon de Sá pode ser enquadrado sob acusação de ter tomado dinheiro do próprio banco e de publicar balanços "maquiados".
Calmon de Sá e outros administradores do Econômico também poderão ser processados sob a acusação de crime de responsabilidade civil.
A Agência Folha entrou em contato cinco vezes ontem, por telefone, com a casa Calmon de Sá, em Salvador (BA). Nas quatro primeiras tentativas a informação era de que o banqueiro não estava.
Na última, às 18h15, a Agência Folha foi informada que Calmon de Sá estaria descansando em uma fazenda no interior da Bahia. O funcionário disse que não sabia a localização da fazenda.
A diretoria do BC decidiu apressar o andamento das investigações acerca de eventuais irregularidades cometidas por Calmon de Sá e sua equipe.
Contrariando a praxe, a assessoria de imprensa do BC divulgou ontem informações sobre dados preliminares que indicam supostos ilícitos cometidos por Calmon de Sá, já sob análise da área jurídica.
Tais dados poderão ser enviados ainda nesta semana à Procuradoria Geral da República, que tem a responsabilidade de abrir os inquéritos que permitirão o enquadramento do banqueiro e de sua equipe.
Normalmente, o envio de relatórios desse tipo à Procuradoria só ocorre após o encerramento de auditoria feita por uma comissão de inquérito, e sob sigilo.
A idéia de apressar o trâmite do inquérito sobre a atuação dos controladores do Econômico faz parte de uma estratégia para eliminar mais rapidamente a pauta de assuntos pendentes no BC.
A Folha apurou que a equipe do presidente do BC, Gustavo Loyola, considera ser necessário cumprir essa pauta antes de definir sua permanência no governo.
O ex-interventor do Banco Econômico Francisco Flávio Salles Barbosa disse ontem em Salvador (BA), que cumpriu a sua missão. "Esta intervenção está virtualmente encerrada. Quem falava em liquidação, calou-se. Quem pretendia esquartejar o patrimônio do banco, deixando ao povo baiano o esqueleto de sua principal instituição financeira, foi buscar negócios em outras praias."
Barbosa distribuiu nota à imprensa afirmando que "fatos negociais relevantes e o grande jogo de interesses" foram constantes durante seu período de intervenção.
Ele criticou o banco Bozzano, Simonsen, durante a intervenção do Econômico. "Tal grupo (Bozzano) jamais teve a intenção de comprar o Econômico, seu objetivo era o de intermediar a venda de ativos", diz a nota.
A Folha não conseguiu localizar a diretoria do banco Bozano, Simonsen para comentar as declarações de Barbosa.
Barbosa afirmou ainda que nenhum integrante de sua equipe foi responsável pelo vazamento da pasta rosa. Técnicos do BC suspeitam que Barbosa teria sido o responsável pelo vazamento.

Colaboraram a Agência Folha, em Salvador, e a Sucursal do Rio

Texto Anterior: Saída não atrapalha reabertura
Próximo Texto: Leia a nota do ex-interventor
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.