São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 1996
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Nadadores brasileiros renunciam à tecnologia

RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL

A natação do Brasil dispensa toda a maquinaria e eletrônica inventada pelos EUA nos anos 90 para acompanhar o treinamento dos atletas de alta performance. Só não prescinde de uma invenção japonesa da década passada: o walkman.
Usado antes da prova, o aparelho eletrônico ajuda na concentração. "Quando estou no vestiário, prefiro me isolar escutando música. Só converso com alguém se a pessoa for muito próxima", diz Fernando Scherer, que se prepara para os 50, 100 e o revezamento 4x100 m livre em Atlanta-96.
Ao contrário do que se podia pensar, a trilha sonora nos ouvidos dos atletas não é nenhum método alternativo de relaxamento: o efeito desejado é totalmente o inverso.
"Gosto de escutar 'Seek and Destroy', do Metallica, que diz persiga e destrua seu inimigo. É isso que procuro fazer na água. O heavy metal ajuda a ativar os músculos", diz André Cordeiro, candidato ao revezamento 4x100 m livre da Olimpíada.
A predileção pelos metaleiros não é exclusividade de Cordeiro.
"Vou escutando Metallica e Pantera até a beira da piscina. Dá mais ânimo. Parece que a prova já começou", afirma Alexandre Massura, 20, também aspirante à equipe de revezamento brasileira.
Outro fã do rock pesado é o catarinense Scherer, 21, só que em uma versão menos carregada.
"Levo meu discman e os CDs do Green Day e Van Halen sempre na minha mochila", disse.
A voz discordante é Gustavo Borges, 23, possuidor de um gosto mais pop. "Para anular o barulho da torcida, escuto INXS."
A proximidade aos aparelhos de som em miniatura esconde a aversão dos nadadores nacionais às novas tecnologias que proliferaram nos últimos anos na busca permanente da quebra de recordes, a razão maior da modalidade.
A quantidade de acessórios atingiu tal volume que alguns acreditam que, no próximo século, daqui a cinco anos, a presença dos treinadores poderá ser dispensada por uma boa tarde de compras.
Câmeras de vídeo submarinas, walkie talkies à prova d'água, monitores de batimento cardíaco subaquáticos, aparelhos de musculação que simulam o movimento do nado e programas de computador específicos para a natação são alguns dos itens à disposição.
"Isso é coisa de americano, cada país tem sua fissura. Meu treino consiste em pular na piscina e nadar", sentencia Scherer, o nadador brasileiro que mais evoluiu nos últimos três anos.

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