São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 1996
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Osmar Santos vem aí

JUCA KFOURI

No começo, foi pura covardia. Pouco mais de um ano atrás, quando Osmar Santos sofreu o gravíssimo acidente de automóvel que quase o matou, vê-lo era uma prova para poucos. Não tinha essa força.
Preferia saber dele pelos que o visitavam e guardar viva a imagem de quem revolucionara a história do rádio.
À medida que ouvia sobre seus progressos, não acreditava, achava que o desejo das pessoas falava mais alto.
Mas fazia planos para ir vê-lo. E adiava sempre.
Até que, no meio de dezembro, por acaso, deu-se o reencontro. "Lindo, lindo", ele dizia. "Tá bom, tá bom", garantia.
Foi mais emocionante que ouví-lo narrar os gols da Democracia Corintiana ou comandar os comícios das Diretas Já.
Daí, a coragem deu o ar da sua graça. E saímos para jantar no sábado passado. Osmar, sua mulher, os irmãos e as cunhadas.
Ele já é capaz de dar bons passos sozinho, ajudado por um aparelho ortopédico na perna direita. O braço direito ainda reage pouco, mas a fala ganha novas palavras a cada dia, pronunciadas cada vez com maior clareza.
O carinho e a dedicação de sua família são dignas de um romance de Tolstoi.
Osmar Santos continua moleque. Outro dia, pegou sua camionete automática e dirigiu um pouco no Guarujá.
Buzinou para o carro que demorou a sair quando o sinal abriu e se escondeu do primeiro guarda que viu, consciente de que não poderia estar dirigindo.
Para o segundo, achou melhor acenar alegremente.
Já faz as escalas da rádio Globo com absoluta convicção e, no próximo dia 20, embarcará para a melhor clínica de fisioterapia do mundo, em Miami, para apressar sua espantosa, heróica recuperação.
Dá longos gritos de gol para mostrar como comemorou cada tento santista diante do Fluminense e curtos, quase imperceptíveis sussuros, ao lembrar dos marcados pelo Botafogo.
Entende tudo, ri divertido, pisca os olhos malandramente, faz sinais de positivo com a mão esquerda e, que bom ter visto para acreditar, dá para imaginá-lo de volta ao trabalho mais depressa do que se poderia supor -embora, para a nossa impaciência, ainda demore.
Mas o brilho nos olhos de Osmar Santos, intacto, sua comovente disposição, que ainda o levou a uma discoteca depois do jantar, e seu carisma permitem confirmar a boa notícia: Osmar Santos vem aí, garoto bom de bola.

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