São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 1996 |
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Mitterrand morre aos 79 anos em Paris
VINICIUS TORRES FREIRE
Tinha câncer na próstata, doença que teria se estendido aos ossos, segundo o escritor Jean Lacouture, que entrevistara Mitterrand nas últimas semanas. Quinta-feira, dia de luto nacional, ele será enterrado às 11h em Jarnac (no sudoeste do país), a cidade em que nasceu, no cemitério onde estão seus pais e avós. As cerimônias em Jarnac, sede do Museu Mitterrand, serão íntimas. No mesmo momento será celebrada uma missa em Notre-Dame, catedral de Paris, pelo cardel Jean-Marie Lustiger. Mitterrand se dizia agnóstico. O Partido Socialista convocou uma homenagem para amanhã, na praça da Bastilha, em Paris. Não estão previstas cerimônias públicas com a presença do corpo. O senador José Sarney (PMDB-AP), presidente do Congresso brasileiro, deve representar o país nas cerimônias em memória do presidente morto. Desde que foi anunciada a morte do presidente, admiradores anônimos deixavam buquês de rosas na calçada do prédio onde Mitterrand morreu. A rosa é o símbolo do Partido Socialista. A polícia protegia e isolava a entrada do edifício, mas o ambiente era calmo e a aglomeração não chegou a passar de cerca de 200 pessoas durante todo o dia. Membros do governo e políticos visitaram o corpo, velado apenas pela família. O presidente Jacques Chirac, principal opositor de Mitterrand, fez um discurso de homenagem em cadeia nacional de rádio e TV. Lembrou o compromisso do presidente morto com os ideais de justiça social, seu engajamento pela unificação da Europa e o gosto de Mitterrand pela literatura. O corpo será levado para Jarnac em um avião militar na manhã de quinta-feira. Mitterrand não queria homenagens de Estado em seu enterro. A cerimônia reservada estaria acertada desde março de 95. O corpo não será transferido para o terreno que ele e sua mulher compraram em Mont Beuvray e onde, especulava-se, seria construído um mausoléu. O local teria importância histórica -os gauleses aí teriam organizado a resistência contra o Império Romano, que ocupava o território do que viria ser a França. Algumas TVs e rádios francesas ocuparam toda a sua programação de ontem com reportagens e debates sobre a morte do presidente. A estatal France 2, TV de segunda maior audiência, dedicou o dia inteiro a Mitterrand, desde o anúncio de sua morte. O mesmo fez a rádio France-Info, dedicada exclusivamente a notícias. O jornal parisiense "Le Monde", que circula à tarde, dedicou sua manchete à morte e, pela segunda vez em sua história, publicou uma foto na primeira página. A edição se esgotou rapidamente. Mitterrand passara o Natal em Assuã, no Egito, quase todo o tempo em repouso e conduzido em cadeira de rodas. Seus médicos queriam que cancelasse a viagem. Estava acompanhado de sua filha ilegítima, Mazarine, e da mãe desta, Anne Pingeot. Apenas em 1994 tornou-se público que Mazarine era sua filha. O presidente era casado com Danielle Mitterrand e tinha com ela um casal de filhos. Mitterrand também estava acompanhado de seu anestesista, Jean-Pierre Tarot, presença constante ao seu lado nos últimos anos. Tarot lhe aplicava morfina contra as dores provocadas pelo câncer. Voltou à França no dia 29 de dezembro, e a Paris no último dia 2. Dedicava-se a escrever mais dois livros (é autor de outros 14) e tinha mesmo marcado um encontro com o ex-primeiro-ministro conservador Edouard Balladur. Texto Anterior: Doença exigiu duas operações Próximo Texto: Mitterrand combinou perfil nobre e socialismo Índice |
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