São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 1996
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Arrastão salarial

Não parece razoável, para dizer o menos, a proposta aventada pelo governo federal de conceder ao funcionalismo um reajuste zero. Se tal ocorresse, os servidores ficariam dois anos com a mesma remuneração básica. Nesse período, a elevação do custo de vida terá acumulado pelo menos 40%.
É inegável que o sucesso na estabilização da economia depende em grande medida do equilíbrio das contas públicas. E certamente há muito ainda por fazer no esforço de contenção de gastos e racionalização da máquina estatal. Mas daí a propor uma degradação generalizada dos salários do funcionalismo há uma grande distância.
O saneamento da máquina demanda que sejam eliminados os contingentes em excesso e frequentemente ociosos, que se realizem remanejamentos de pessoal e que se busquem meios de associar a remuneração a critérios de mérito. Uma política de tábula rasa, diferentemente, não só é incapaz de dotar a máquina de maior eficiência, como tende a acentuar a deterioração da qualidade dos recursos humanos empregados pelo Estado.
Ademais, ainda que sob o aspecto legal a União possa estabelecer regras distintas para o funcionalismo e os trabalhadores do setor privado, negar a seus funcionários o que concedeu ao restante dos brasileiros põe o governo em situação moralmente desconfortável.
É lamentável que, em vez de visar a um Estado enxuto e eficiente, o governo pareça satisfazer-se com uma máquina inchada, que tolera parasitas e, de roldão, maltrata os bons funcionários.

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