São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 1996 |
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Família 2000
JOSIAS DE SOUZA BRASÍLIA - São duas mulheres com muito em comum. Bonitas, famosas e ricas. Riquíssimas. Falo de Xuxa e Madonna.Ambas querem ter filhos. Sim, sim, abriram em suas agendas uma nesga de espaço para a maternidade. Algo mais as une: o desprezo pelos pais dos futuros rebentos. Xuxa fará inseminação artificial. Busca o sêmen, não o marido. Madonna agirá de outro modo. Planeja chegar ao esperma de que necessita como se chega ao comprador de um carro, pelos classificados de jornal. Não quer o romance. Deseja apenas o macho reprodutor. Súbito, o fálus passou a um plano secundário. Capazes de atear no homem o frêmito do desejo inaudito, da paixão onanista, as divas buscam a gravidez asséptica. Querem, ironia suprema, a fecundação assexuada. Eis o que gostaria de realçar: a família é uma instituição em trânsito. Sabe-se que está em movimento, rumo ao século 21. O que não se sabe é aonde chegará. O lar, em seu formato tradicional, está sitiado por uma atmosfera de borrasca. Xuxa e Madonna são relâmpagos de uma tempestade que está por vir. A família patriarcal, ancorada na figura do homem como chefe provedor, está sob nuvens espessas. Passa por um processo de transmutação. É comum dizer-se que está em franca decadência. É verdade. Mas, isso não é o fim do mundo. A família não está sendo extinta. Ela apenas muda de cara. E sua nova fisionomia, em formação, tem o mérito de ser mais verdadeira. O que estamos assistindo é o triunfo da vontade do indivíduo sobre o interesse da célula familiar. Emancipados, filhos e mulheres aumentam seu poder de influência. No conselho familiar, a voz masculina é apenas mais uma. O próprio conceito de casal evolui. Pares de gays e lésbicas rompem preconceitos. Expõem sua opção à luz do sol. Reivindicam até o direito à adoção de filhos. As mudanças embutem um custo. Sempre há um preço a ser pago. Casa-se menos e mais tardiamente. Os relacionamentos são fugazes. Dá-se aos filhos menos atenção. Mas a relação familiar é menos hipócrita. Texto Anterior: A morte das últimas ilusões Próximo Texto: Barbeiros e cocheiros Índice |
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