São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 1996
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O médico, o paciente, o remédio e a doença

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Em terras tapuias é fácil entregar-se de corpo e alma à arte explícita da hipocondria. Vamos aos fatos.
No prefácio da edição brasileira do "Diário de um Adolescente Hipocondríaco", Ana Maria Machado tenta situar o personagem principal, Peter Payne, para o jovem leitor brasileiro. E aproveita para expor algumas das diferenças que existem entre nós e o chamado mundo civilizado: "...na Inglaterra ninguém chega na farmácia e vai comprando remédio assim sem mais nem menos, sem receita, sem nada. Nem vai consultando o farmacêutico ou o balconista, como se ele fosse alguém que tivesse estudado medicina e pudesse tomar decisões responsáveis sobre a saúde dos outros". De fato.
Ponho minha mão no fogo: o brasileiro é campeão mundial em auto-medicação. E aquele médico que receita o remédio X só por ter algum vínculo com o laboratório, que se confunde ao anotar a dosagem na receita e escreve de forma ilegível é quem mais incentiva a arte da hipocondria e da auto-medicação.
Tudo bem. Admito que é preciso certa dose de "know how" para ser submetido a uma consulta médica. Definitivamente não é coisa para principiantes. Não?
Pois quantas vezes você não se encontrou fazendo ao farmacêutico perguntas que deveria ter feito ao médico? Quantas vezes não ficou inibido de tomar o tempo do ilustre doutor e saiu da consulta sem saber ao certo como agir?
Pois para quem não sabe distinguir alergia de alegria, acaba de ser lançado um livro elucidativo. Trata-se do "Guia do Paciente", de N. Caetano, um manual dos principais remédios usados no Brasil. Feito sob medida para leigos, o guia fornece o nome comercial e genérico dos medicamentos, explica para que servem e como usá-los. É uma mão na roda.
Quer ver? Você sabia, por exemplo, que antibióticos inibem o efeito de anticoncepcionais? Que broncodilatadores podem provocar aumento de apetite? Ou que um simples remédio contra esofagite pode causar alucinações? Pois está tudo no guia -que, como hipocondríaca diplomada, pretendo ler de cabo a rabo.

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