São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 1996
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Sete mulheres são aprovadas no ITA

BETINA BERNARDES; CARLOS HENRIQUE SANTIAGO; CLÁUDIO LEYRIA
DA REPORTAGEM LOCAL, DA AGÊNCIA FOLHA E DA FOLHA VALE

Sete estudantes foram aprovadas no primeiro vestibular do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) aberto à participação das mulheres. Foram classificados ao todo 120 alunos.
O ITA fica no CTA (Centro Técnico Aeroespacial), em São José dos Campos (97 km a nordeste de São Paulo). A faculdade é uma das mais concorridas do país e existe há 45 anos. Dos 3.800 inscritos para o vestibular em 96, 530 eram mulheres.
As alunas aprovadas vão ter alojamentos próprios e terão que prestar serviço militar.
O serviço militar dos alunos do ITA acontece todas as segundas-feiras durante o primeiro ano. O ITA informou que o serviço será diferenciado para as mulheres, mas não explicou de que forma.
As aprovadas são Adriana Jacoto, Andréia David Sapienza, Juliana Martinez Joaquim e Vanessa Flaborea Favaro, de São Paulo, Patrícia Silva Rodrigues, de Belo Horizonte (MG), Christianne Basílio e Silva, do Rio de Janeiro, e Enda Dimitri Bigarelli. O CTA não informou a cidade de Enda.
"Só prestei o ITA porque sempre tive uma quedinha por engenharia, mas tinha certeza que não passaria", diz a paulistana Vanessa Favaro, 17.
A estudante ainda não decidiu se vai para o ITA ou se aguarda o resultado do vestibular para a USP (Universidade de São Paulo), onde tenta medicina.
"Acho que arranjei sarna para me coçar", diz. Vanessa resolverá no fim-de-semana se vai fazer engenharia ou medicina. "O problema é que tenho de estar no ITA no próximo dia 21. O resultado da Fuvest só sai dia 5 de fevereiro. Tenho que decidir agora o que quero realmente fazer."
A estudante afirma que o fato de entrar para uma instituição onde até agora só estudavam homens não pesará em sua decisão. "Só espero que não haja preconceito. Acho que a aprovação dessa primeira turma é uma conquista para todas as mulheres."
Vanessa estudou no colégio Bandeirantes e fez cursinho no Anglo. Sua média no colégio era 8,5. No ano passado, ficava das 7h às 18h30 no colégio ou no cursinho e estudava cerca de duas horas quando chegava em casa. "Gosto de estudar, adoro aprender", diz.
Outra paulistana aprovada, Adriana Jacoto, 18, não irá para o ITA. Ela cursa mecatrônica na Escola Politécnica da USP. "Só fiz por curiosidade o vestibular do ITA. Não vou jogar fora um ano do curso que já estou fazendo."
A mineira Patrícia Rodrigues, 18, entrou para o ITA quase por acaso. Ela afirmou que só se inscreveu no vestibular para não deixar sua melhor amiga, Mariane Akemi, fazer o vestibular sozinha. "Eu disse para ela que só iria estudar no ITA se ela fosse também."
A amiga não passou, mas Patrícia Rodrigues mudou de idéia. "Eu não levava fé, mas, agora, estou disposta a ir. Vou ver primeiro como são as condições de alojamento, mas pretendo ficar."
Ela optou pelo curso de engenharia de infra-estrutura aeronáutica (planejamento e construção de aeroportos), porque, entre as opções oferecidas pelo ITA, é o que tem mais relação com o que ela pretende ser, arquiteta.
"Um diploma do ITA é muito respeitado no currículo", diz. A carreira militar não está nos seus planos. "Vou continuar civil."
Patrícia ouviu falar no ITA pela primeira vez quando estava no segundo grau e achou "um absurdo" que as mulheres fossem proibidas de fazer o vestibular. "Era tempo de mudar isso."
Ela se formou no colégio Loyola, um dos mais exigentes de Belo Horizonte, mas não se considera "caxias".
"Sempre fui dedicada aos estudos, mas nunca fiquei estudando o dia inteiro."
Até sexta-feira, ela estará fazendo as provas da segunda etapa do vestibular para o curso de arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais. "Se eu passar, vou trancar a matrícula na UFMG e, se não der certo no ITA, eu volto."
No próximo dia 21, as aprovadas se apresentam para a matrícula. O ITA tem cursos de engenharias eletrônica, de computação, de infra-estrutura, aeronáutica e mecânica-aeronáutica.
(Betina Bernardes, Carlos Henrique Santiago e Cláudio Leyria)

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