São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 1996
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Enganação cambial

ANTONIO DELFIM NETTO

Temos insistido sempre que o maior equívoco do Plano Real foi a extraordinária sobrevalorização da moeda nacional, que começou a ser corrigida a partir de março de 1995, depois de muitas peripécias. Ela exigiu taxas de juros muito elevadas, que produziram um desastre no setor privado e terminaram por destruir as finanças públicas.
Essa sobrevalorização, entretanto, tem sido saudada como tendo produzido, segundo o governo, "a maior exportação da história do Brasil".
O grande apoio popular ao plano é explicado pela miopia anestesiante dos que conservaram o seu emprego e estão se beneficiando da estabilidade da cesta básica. Mas parece claro que como o capital do setor agrícola é finito a continuação dessa política não terminará bem.
Tão grave quanto esse problema é o desestímulo introduzido no setor exportador. Como as exportações brasileiras vão crescer muito pouco, não se pode esperar o aumento de produtividade que adviria da continuidade do crescimento das importações sem correr séria ameaça de crise.
É lamentável que nem os representantes dos exportadores se dêem conta desse fato, como se vê pela sabujice editorial da "Revista Brasileira de Comércio Exterior", nº 45, out/dez 1995.
A tabela abaixo revela o que se espera em 1996 no Brasil e nos seus competidores no mercado mundial:
O trágico é que esse crescimento insuficiente das exportações se dá quando as condições externas são favoráveis: 1) um aumento das correntes de comércio devido ao aproveitamento das baixas de tarifas da rodada do Uruguai; 2) uma diminuição tarifária interna que certamente reduziu os custos das importações de partes e componentes e de máquinas operatrizes, o que beneficia as exportações e 3) uma demanda interna relativamente frouxa.
A Argentina corrigiu o seu câmbio real com vários truques e algumas medidas estruturais importantes, que reduziram o "custo Argentina", além de ser beneficiada pela sobrevalorização brasileira. Mas seu déficit comercial voltou, apesar do pequeno crescimento do seu PIB em 1995.
Deveríamos diminuir as promessas e aumentar a ação para reduzir o "custo Brasil". E aproveitar a frouxidão da demanda para ir ajustando a taxa de câmbio nominal sem causar perturbação na taxa de inflação.
Com o atual crescimento das exportações estamos condenados a aceitar o subdesenvolvimento como uma fatalidade imposta pela "revolução cultural" dos "nouveaux économistes".

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