São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 1996 |
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'O Poder do Amor' é 'Dallas" com causa
AMIR LABAKI
Produção: Estados Unidos, 1995 Direção: Lasse Hallstrom Elenco: Julia Roberts, Dennis Quaid, Gena Rowlands, Robert Duvall, Kyra Sedgwyck Estréia: hoje, nos cines Liberty, Iguatemi 2, Olido 1 e circuito É interessante como por vezes filmes banais, como este "O Poder do Amor" que estréia hoje, iluminam como poucos a essência multiautoral do cinema americano. Por trás deste melodrama familiar contemporâneo estão um diretor estrangeiro de prestígio (o sueco Lasse Hallstrom, de "Minha Vida de Cachorro"), uma roteirista da moda (Callie Khouri, de "Thelma e Louise"), a estrela da hora, apesar de tudo (Julia Roberts), e um elenco carimbado de coadjuvantes (Gena Rowlands, Robert Duvall, Dennis Quaid) -para não falar da equipe técnica-, onde desponta um deus da fotografia (Sven Nykvist). A fórmula é clara: aposta no olhar oblíquo de um cineasta estrangeiro com currículo em radiografias do mal-estar doméstico para potencializar um roteiro "moderno" que trata do impacto da liberação feminina sobre costumes do tradicional sul dos EUA. Apenas alguns momentos de filme são suficientes para compreender que a receita desandou, muito pelo esquematismo com que a trama bipolar se apresenta. Uma secular família sulista um belo dia acorda em tumulto: Grace (Roberts), a filha mais nova, sai de casa ao flagrar uma escapada do marido (Quaid). Simultaneamente, o pai (Duvall) quebra regras do haras que mantém, ao comprar um cavalo que decide montar numa competição local. O pano de fundo é uma sociedade reacionária, herdeira da que vimos em "E O Vento Levou". Divórcio é tragédia, adultério, rotina, a única negra mantem-se empregada doméstica, mulheres gralham e homens mandam. O roteiro de Khouri erra ao tornar caricato o que já era explícito em militância feminista de "Thelma e Louise". "O Poder de Amor" é uma espécie de "Dallas" com causa. Como em todo novelão, é o elenco que insufla alguma vida. Entre várias cenas flacidamente encenadas, soerguem-se personagens que transcendem os tipos de encomenda. Gena Rowlands torna tocante sua matriarca reprimida, Robert Duvall combate os excessos de seu pai autoritário, Dennis Quaid compõe um matizado moleque arrependido, e até Roberts surpreende.Sua escolha é um evidente equívoco. Ela é metropolitana demais. Ainda assim, mais convincente aqui, menos ali, ela sobrevive. A linda mulher, quem diria, torna-se atriz. Texto Anterior: Walt Disney arrecada US$ 2,1 bi em 95 Próximo Texto: Cinemateca celebra 1ª projeção no Brasil Índice |
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