São Paulo, terça-feira, 16 de janeiro de 1996
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Envelope para e-mail

MARIA ERCILIA
DA FOLHA ONLINE

Nos EUA existe uma lei que trata programas de criptografia como munição. Como tal, estes programas não podem ser exportados para outros países -seria algo equivalente a entregar segredos militares.
Essa lei deu origem a pelo menos um caso absolutamente surrealista. Phil Zimmermann, autor do PGP, o melhor e mais popular programa de criptografia, foi acusado em 93 de distribuí-lo mundialmente pela Internet.
O resultado foi um processo movido pelo Departamento de Justiça norte-americano, que custou um dinheirão a Zimmermann. No melhor estilo americano, foi criado um fundo de defesa para ele etc.
Só que semana passada o processo foi encerrado. Zimmermann está livre -ele sempre negou ter distribuído pessoalmente o programa, que é gratuito. Exportar o PGP continua sendo crime de acordo com a legislação norte-americana -e pessoas no mundo inteiro continuam usando o PGP.
No Brasil ele pode ser encontrado na maioria das BBS e alguns endereços na Internet. Tem até documentação traduzida para o português. É muito difícil impedir que alguém copie um programa nos EUA e mande por mail para outros países.
Para mais detalhes, você pode consultar http://www.stack.urc.tue.nl/
~galactus/remailers/ ou http://www.eff.org/pub/Alerts. Outra boa fonte de informações sobre o PGP é o grupo de discussão alt.security.pgp.
Durante os três anos de processo, Zimmermann continuou trabalhando em programas de criptografia. Acaba de ser anunciado o beta teste do PGPfone, programa que faz pela comunicação por telefone o que o PGP faz pelo seu e-mail e que também serve para comunicação por voz pela Internet. O programa está disponível (para Macintosh) no http://web.mit.edu/network/pgpfone/. A versão para Windows 95 sai em três semanas.
Essa lei não consegue impedir que o PGP, que não é comercial, circule livremente pelo mundo, mas dá muita dor de cabeça a empresas como a Netscape, que é obrigada a manter duas versões de seu programa de segurança na Web, uma "fracaïï (com chave de 40 bits) para consumo internacional e outra "forteïï (com chave de 128 bits) para consumo interno.
Agora a pergunta é: porque todo mundo não usa PGP para se comunicar e para por exemplo proteger transações financeiras pela Internet, já que é tão seguro e ainda por cima gratuito? Não se repete a torto e a direito por aí que o grande problema da Internet é a falta de segurança?
Pois é. O PGP é um pouco complicado de usar. E como é gratuito, não há ninguém com interesse comercial suficiente para armar em cima dele uma estratégia de marketing que convença as pessoas de que vale a pena usá-lo.
Chega a ser patético que a solução para comunicação segura pela Internet já exista, mas poucos a conheçam, porque ela não pode ser vendida e portanto não não é suficientemente divulgada. Além disso, não poderia ser usado em escala mundial por empresas, por causa da lei contra sua exportação.
O correio de Hillary Bem que Hillary Clinton gostaria de ter usado o PGP. Membros do Senado americano declararam no domingo que pretendem examinar o correio eletrônico da Casa Branca, em busca de informações sobre o caso Whitewater.
Como diz Zimmermann, o PGP é um envelope para e-mail. Se todo mundo usasse, ninguém ia desconfiar quando visse uma mensagem criptografada...
Esse programa serve também para verificação de autenticidade de mensagens. O mail do próprio Zimmermann que circulou pela Internet na semana passada, anunciando sua liberdade, vinha assinado com PGP, provando que somente ele poderia ter escrito aquela mensagem.

NetVox acaba de se mudar para o novo servidor da Folha. Agora você pode mandar seu mail para netvox@folha.com.br

net notas
A IBM anunciou que finalmente vai estrear seu serviço de acesso.
Internet. Em São Paulo, vai ser no dia 30. No Nordeste e no Rio, no dia 20.

Saiu o Netscape 2.0 beta 5 (http://www.netscape.com). Poucas novidades em relação ao beta 4. Entre elas, algumas frescurinhas: um ícone novo e um script que leva você direto. Página da Netscape para registrar o programa. Se quiser, é claro.

Timothy Leary acaba de estrear uma página na Web, comemorando seus 90 anos. Confira. Tem até boletins de saúde do velho hippie, contando tudo sobre seu câncer e seu cardápio diário de drogas.

Lea Storch lança no próximo dia 18, na livraria Cultura (São Paulo), seu livro sobre o mundo das BBS.

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