São Paulo, quarta-feira, 17 de janeiro de 1996
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Israel prevê eleição violenta sábado

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

A quatro dias das primeiras eleições da história palestina, a tensão subiu vários graus ontem, a partir da avaliação da própria polícia de Jerusalém de que radicais, tanto judeus como palestinos, tentarão provocar incidentes, em especial na própria Jerusalém e em Hebron, 35 km ao sul.
"Minha hipótese de trabalho é a de que haverá tentativas de perturbação de ativistas da extrema direita e da oposição palestina", diz Aryeh Amit, chefe de polícia de Jerusalém.
Para reforçar a hipótese, a polícia trabalha com a informação de que os rabinos mais ortodoxos, contrários ao processo de paz, deram permissão especial para que os fiéis entrem em locais de trabalho no sábado.
O "shabat", o dia sagrado para os judeus que respeitam as regras, termina apenas às 17h40 do sábado, quando estarão se fechando as cinco agências dos correios (locais de trabalho, portanto) em que votarão os palestinos da parte oriental de Jerusalém, a área árabe da cidade.
Foram autorizados a votar nessa área apenas 5.000 dos 49 mil palestinos lá inscritos. Os demais terão de se deslocar para postos de votação na Cisjordânia.
Nestas primeiras eleições palestinas, votam mais de 1 milhão de eleitores, espalhados por Jerusalém, faixa de Gaza e Cisjordânia. Eles escolherão um Conselho de Autonomia e seu presidente.
Jerusalém é um ponto crítico por ser reivindicada como capital tanto pelos israelenses como pelos palestinos. Por isso mesmo, o rabinato convocou uma oração especial para o final da tarde de sábado, junto ao Muro das Lamentações, principal local do judaísmo.
Servirá como protesto, teoricamente silencioso, contra o que os ortodoxos consideram "progressiva infiltração" da autonomia palestina na parte oriental da cidade, segundo o jornal "Haaretz".
O outro ponto crítico é Hebron, onde ontem dois israelenses foram feridos em uma emboscada, sem que ninguém tenha assumido a responsabilidade pelo ataque. É a única das grandes cidades da Cisjordânia que Israel não entregou aos palestinos, mantendo um fortíssimo esquema de segurança, que corta a cidade em dois.
É para proteger os 415 colonos que vivem em plena Cidade Velha, o coração histórico de Hebron, cercados por cerca de 120 mil palestinos.
David Wilder, porta-voz dos colonos, jura que o sábado será normal para eles. Mas, como é o "shabat", dia em que recebem inúmeros visitantes, eles serão, "como de costume", levados a conhecer a cidade.
Como os colonos e seus visitantes não saem das colônias sem a companhia de tropas israelenses, o potencial de conflito é enorme.
Potencial reforçado por ser Hebron um feudo do Hamas (Movimento de Resistência Islâmico), que se negou a participar do processo eleitoral e convocou os palestinos a boicotar a votação ao menos em Hebron, justamente pela presença dos colonos.
Também a oposição israelense ao processo de paz se movimenta na mesma direção. Danny Danon, ativista do Likud, o bloco ultraconservador que perdeu o governo para os trabalhistas em 92, mandou imprimir milhares de cartazes em que ameaça os palestinos de Jerusalém com a perda da cédula israelense de identidade.
"Pense duas vezes antes de votar. Você tem de decidir entre votar pela Autoridade Palestina e perder sua cédula de identidade."

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