São Paulo, quarta-feira, 17 de janeiro de 1996 |
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Família de Mitterrand vai processar médico
VINICIUS TORRES FREIRE
Gubler diz no livro "Le Grand Secret" ("O Grande Segredo", editora Plon) que o presidente o forçou a forjar boletins médicos por 11 anos, para esconder um câncer na próstata. Além disso, Gubler escreveu que, no final de 1994, Mitterrand não tinha mais condições de governar. "Ele passava o dia na cama. Não trabalhava mais, pois nada além da doença o interessava." As duas famílias do presidente disseram que vão processar também a revista francesa "Paris-Match", que publicou duas fotos de Mitterrand morto. As famílias dizem que as fotos foram "roubadas", pois não houve exposição pública do corpo, e a revista não pediu autorização para fotografá-lo. O presidente francês, morto no último dia 7, soube que tinha câncer em novembro de 81, seis meses depois de assumir o cargo. Apesar de ter feito questão de ser o primeiro presidente a publicar seus exames, Mitterrand disse em 1981 aos seus médicos que sua doença "era segredo de Estado". Mitterrand entregou o cargo a Jacques Chirac em maio de 1995. Os franceses, que reelegeram Mitterrand em 1988, foram informados do câncer em 1992, quando o presidente teve de ser operado. Gubler preparava o livro havia meses e pretendia publicá-lo no final de janeiro. A morte de Mitterrand apressou a edição para hoje. O médico disse na TV que pretende, com o livro, discutir o problema da saúde dos governantes. O presidente dispensou Gubler em 1994, insatisfeito com o tratamento. Em 1990, Mitterrand disse a ele que talvez renunciasse ao cargo: "Pode ser que, em agosto, eu vá embora. Nesse caso, é preciso que você prepare o terreno no que diz respeito à minha saúde". O comunicado em que Gubler "preparava o terreno" foi censurado por assessores do presidente. Um deles, Michel Charasse, confessou ontem a censura. O segredo começou antes mesmo que se soubesse do câncer. O presidente fez seus exames num hospital militar, ia no carro de Gubler sem escolta e se internava com o nome do cunhado do general que dirigia o hospital. O presidente da Ordem dos Médicos, Bernard Glorion, disse que "deplora" a atitude de Gubler e considera que ele pode ser punido. Texto Anterior: Grupo critica ajuda a vítimas de Kobe Próximo Texto: Iraque pode aceitar troca Índice |
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