São Paulo, quarta-feira, 17 de janeiro de 1996
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O dito pelo não dito

A comissão do Senado que investiga supostas irregularidades no Sivam recebera do TCU, em 95, um parecer que levou a Casa a opor-se ao projeto. Um mês depois, o tribunal indicava que a Aeronáutica não teria cumprido os procedimentos necessários à montagem do sistema, reforçando as suspeitas. O TCU solicitou então respostas mais satisfatórias do ministério.
Subitamente, porém, os senadores passaram a emitir juízos favoráveis ao Sivam e decidem agora que não vão mais esperar pelo relatório final do tribunal. Segundo o líder do governo, Elcio Alvares (PFL-ES), "o Senado é soberano e não está submetido ao TCU", e a oposição ao contrato com a Raytheon deve ser atribuída muito mais a "aspectos emocionais e passionais".
Causa enorme perplexidade essa brusca e inesperada mudança de rumos. Para que solicitar uma apreciação do TCU e depois, ao arrepio do bom senso, desprezá-la em nome da "soberania" da Casa? Como pode o senador atribuir as resistências ao Sivam só a fatores subjetivos, se nem a comissão foi ainda capaz de estabelecer, fria e objetivamente, a realidade dos fatos e a importância do projeto para o país?
Ao que parece, é o Senado que mais está sujeito a oscilações subjetivas. Ignoram-se os pareceres e não se vê uma decisão madura, alicerçada nas reais necessidades públicas. Resta a forte impressão de que, no esforço intensivo do governo e seus líderes para aprovar o Sivam, há algo -e talvez não seja pouco- que não está sendo dito com transparência à sociedade.

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