São Paulo, quarta-feira, 17 de janeiro de 1996
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"Bye, bye greves"

FERNANDO RODRIGUES

BRASÍLIA - O governo FHC aplicou uma rasteira na oposição -que já andava mirrada- ao fazer o acordo da Previdência diretamente com as centrais sindicais, anteontem.
Na prática, FHC desqualificou o Congresso como interlocutor principal da sociedade. Procurou sindicalistas. Com eles, decidiu a reforma da Previdência. Uma reforma que não merece esse nome, pois trata-se apenas de um ajuste -já com data marcada para ser revisto: daqui a cinco anos.
A estratégia de FHC rendeu-lhe dois dividendos. Um já muito comentado: o presidente aniquilou a resistência no Congresso ao projeto de ajuste da Previdência. Desnorteado, o PT ameaça agora votar contra a CUT.
A outra vitória de FHC é da mesma importância. O acerto firmado com a CUT, Força Sindical e outras centrais inexpressivas limpou o horizonte presidencial de greves. Esse era um dos objetivos principais. E foi alcançado.
"Estamos passando por um momento difícil. A gente já sabia das dificuldades, porque as outras centrais eram contra. Agora, a greve programada para o dia 30 fica mais difícil", reconheceu ontem a esta coluna Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, presidente da mais radical das centrais, a poderosa CUT.
A greve geral proposta pela CUT para o dia 30 seria "em defesa da Previdência". Com o acordo de anteontem, "bye, bye greves" -para citar a frase comemorativa ouvida ontem dentro do Palácio do Planalto.
Constrangido, Vicentinho não fala abertamente. Mas sabe que as chances de comandar grandes greves neste ano tendem ao zero.
À custa de desemprego e afagos diretos nos chefes das centrais sindicais, FHC limpa cada vez mais a área para governar o país como quer.
No caso dos funcionários do governo, um potencial foco de resistência à falta de política salarial, Vicentinho tem um veredicto pouco animador para os que desejam ver o circo pegar fogo: "No setor público é difícil fazer uma greve".
Há duas conclusões nessa história. Vicentinho e as outras centrais perdem a chance de forçar uma verdadeira reforma na Previdência. E FHC, bom, FHC faz, de novo, o acerto possível: o melhor para o seu governo, mas não necessariamente para o país.

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