São Paulo, quinta-feira, 18 de janeiro de 1996
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Crescimento poderá ser contido, diz tucano

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que o governo não hesitará em adotar ajustes necessários para manter a inflação sob controle, como pisar no freio do crescimento econômico diante do aumento do consumo.
"Não adianta um ou outro grupo vir reclamar, apresentar o dado parcial daquilo que está acontecendo com o seu setor como se fosse geral", afirmou, prevendo o crescimento "continuado" da economia nos próximos anos.
Na primeira entrevista coletiva do ano, FHC fez um balanço positivo do desempenho da economia, disse que "raros" foram os setores que não apresentaram crescimento e contestou as pesquisas que apontam o aumento nos índices de desemprego no país.
Embora reconheça aumento do desemprego em setores isolados da economia -como na indústria paulista-, FHC alega que, na média, o desemprego não cresceu no primeiro ano do Plano Real.
O presidente se baseou no levantamento feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que aponta uma queda na taxa de desemprego de 5,06%, em 94, para 4,66%, em 95.
FHC comparou os números brasileiros com os índices dos países desenvolvidos, concluindo que o desemprego aqui é menor que na Europa ou nos Estados Unidos.
"Isso não quer dizer que o governo não esteja preocupado com o desemprego", disse.
A geração de empregos é um dos principais objetivos da política econômica este ano, afirmou o presidente, junto com o crescimento sustentado da economia e a ampliação dos gastos sociais.
A política econômica vai buscar a redução dos juros e a ampliação dos investimentos internos.
O presidente calculou que as taxas de poupança caíram a "níveis insustentáveis" no ano passado, de 18% do PIB (Produto Interno Bruto).
A receita prescrita pelo presidente recomenda, com destaque, o equilíbrio nas contas públicas. "Isso nos preocupa e nós vamos reverter essa situação", apostou o presidente, referindo-se ao déficit público de 3,5% do PIB, em 95.
O presidente insistiu em não responsabilizar exclusivamente as altas taxas de juros pelo déficit.
"Para fazer face a isso, precisamos da reforma", disse FHC, defendendo a conclusão das reformas administrativa, tributária e da Previdência, encaminhadas ao Congresso Nacional.
Mínimo
FHC preferiu não antecipar as decisões do governo sobre a concessão de reajuste salarial para o funcionalismo público ou sobre o aumento real do salário mínimo -neste caso, no mês de maio.
"Eu não digo nada a respeito disso, porque isso me poderia botar numa armadilha. Eu digo uma coisa que depois não tem efeito nenhum", disse.
Em seguida, acrescentou: "Sou favorável à recomposição (dos salários), mas aí depende de se poder pagar ou não. Você paga o máximo que puder dentro de sua responsabilidade".
Segundo o presidente, no ano passado houve o maior reajuste do salário mínimo na história do país. "Nunca houve um salário mínimo tão alto, por discutível que seja o seu nível. Essa é a maior distribuição, que eu saiba, que eu tenha dados, já havida no Brasil."
FHC disse que a maioria da população, que ganha salário mínimo, está comendo mais. Para o presidente, não adianta aumentar salário sem medir as consequências e o impacto na economia. "Se aumentar, vem a pressão e quem paga é o povo", disse.
Embora tenha ressaltado que a possibilidade de reajuste do funcionalismo ainda está em estudo, Fernando Henrique disse que a categoria teve aumento real, em média, de 17% em 95. "Houve uma política de recomposição de salários", afirmou.
A idéia do reajuste salarial acima das taxas inflacionárias, de acordo com o presidente, é de quem tem a cabeça voltada para a inflação.
"Vamos pagar o melhor possível, o que seja possível pagar. Isso é o que deve ser a nova regra."
O presidente reforçou o argumento de que não há motivo para recompor aos servidores a inflação medida no ano passado -22% segundo o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).
"Não quero mais a mentalidade inflacionária. O Plano Real deu, não tomou dinheiro. Não tem de recompor nada."

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