São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 1996
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FHC diz que errou ao vetar esterilização

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse à deputada federal Marta Suplicy (PT-SP) que deverá pedir ao Congresso a derrubada do seu veto aos artigos sobre esterilização voluntária de mulheres e homens, presente na lei sobre planejamento familiar.
Segundo Marta Suplicy, que teve uma audiência com FHC às 18h de ontem, "o presidente disse que foi um erro o seu veto".
A lei 9.263 previa a possibilidade de mulheres e homens com mais de 25 anos e pelo menos dois filhos vivos recorrerem a hospitais públicos para solicitarem, espontaneamente, a esterilização -como ligadura de trompas e vasectomia.
Segundo a Folha apurou, uma vez aprovada no Congresso, a lei seguiu para o Ministério da Saúde para receber um parecer jurídico. Sem que o ministro Adib Jatene lesse, um parecer contrário foi redigido e enviado para FHC.
No Palácio do Planalto, o texto da lei e o parecer jurídico foram parar nas mãos do presidente sem uma segunda opinião. FHC seguiu a orientação do Ministério da Saúde e vetou os artigos sobre esterilização na rede pública.
Adib Jatene, que é a favor da esterilização voluntária na rede pública de hospitais, ficou surpreendido. O ministro soube do veto presidencial ao ler o "Diário Oficial" da União do último dia 15.
"Ele (FHC) deu a entender que foi um grande cochilo", disse Marta Suplicy à Folha. "Ele me contou isso quando disse que estava coletando assinaturas para uma moção de repúdio contra os vetos", afirmou a deputada.
Para derrubar o seu veto, FHC precisa dos votos da maioria absoluta -50% mais 1 de todos os 594 parlamentares- de todo o Congresso. Vai gastar tempo precioso da Câmara e do Senado, ocupados atualmente com uma convocação extraordinária que analisa mudanças na Constituição.
O parecer jurídico que orientou FHC a vetar o artigo sobre esterilização voluntária argumentava que essa prática representaria "clara mutilação".
O médico que participasse de uma operação de vasectomia ou ligadura de trompas, conforme a exposição de motivos enviada ao Congresso, seria responsável por uma "lesão corporal". Segundo o Código Penal, isso seria crime.
O ministro Adib Jatene e o Palácio do Planalto não divulgaram o nome do advogado que fez o parecer jurídico que teria provocado o veto presidencial.
Até o fechamento desta edição, o Planalto também não havia divulgado de que forma FHC faria o pedido para o Congresso derrubar o seu veto.
Outra possibilidade considerada pelo presidente é editar uma Medida Provisória restabelecendo os artigos que autorizam a esterilização em hospitais públicos.

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