São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 1996
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Russos encerram sequestro no Daguestão

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Acabou com a morte de 153 rebeldes tchetchenos a ocupação da cidade de Pervomaiskaia, na República Autônoma do Daguestão.
Tropas russas lançaram entre a madrugada e a tarde de ontem uma ofensiva definitiva contra a cidade, que estava em poder do grupo Lobo Solitário desde quarta-feira da semana passada.
A informação sobre as baixas é do próprio governo russo, que diz também que 82 reféns foram libertados, mas que 18 policiais que estavam como prisioneiros continuam desaparecidos. O governo admitiu a morte de 26 soldados, com 93 feridos. Teriam sido presos 28 guerrilheiros.
Anteontem, quando havia decidido usar violência extra para encerrar o sequestro, o governo russo dizia que não havia mais reféns vivos em poder dos separatistas tchetchenos, e que por isso havia pouco risco de que vítimas civis na operação.
O sequestro começou depois que o Lobo Solitário invadiu um hospital em Kizliar, também no Daguestão (parte da Rússia).
Em seguida, eles fugiram em um comboio de ônibus, levando mais de cem reféns, em direção à vizinha Tchetchênia.
Os militares russos impediram e cercaram-nos em Pervomaiskaia (Primeiro de Maio, em russo) durante uma semana.
O Lobo Solitário, a exemplo de outros grupos guerrilheiros, reinvidica a independência da Tchetchênia em relação à Rússia e o fim da intervenção militar na região, iniciada há 13 meses.
O presidente russo, Boris Ieltsin, se mostrou satisfeito com o resultado da operação e disse que todos os rebeldes foram mortos.
Ele foi desmentido por Mikhail Barsukov, diretor do Serviço Federal de Segurança e chefe da operação em Pervomaiskaia.
Segundo Barsukov, um grupo de guerrilheiros conseguiu fugir. Testemunhas disseram que eles levavam ainda 15 reféns, mas o chefe da operação disse que são "cúmplices, não reféns".
Entre os fugitivos provavelmente está Salman Raduiev, líder do Lobo Solitário. Horas antes do ataque final, a TV clandestina dos rebeldes disse que as tropas russas fuzilaram reféns que haviam sido libertados pelos rebeldes.
A informação foi passada por rádio por Raduiev para o líder dos separatistas, Djokhar Dudaiev. Os russos também captaram um telefonema entre Raduiev e Dudaiev.
Segundo Barsukov, seis pessoas foram presas ao entrar em território tchetcheno. Pervomaiskaia fica junto à fronteira.
Durante a madrugada, os russos tiveram ainda que lutar contra novos guerrilheiros tchetchenos que, vindos de sua República Autônoma, tentaram atacar as posições do governo.
O comando russo disse que esses guerrilheiros foram afastados, mas não falou em vítimas. Os rebeldes cercados em Pervomaiskaia resistiram até a madrugada.
Em Grozni, a capital da Tchetchênia, uma bomba explodiu em um supermercado, deixando um militar russo gravemente ferido. Quatro tchetchenos foram presos, acusados do atentado.
A 15 km da cidade, em Iermolovka, guerrilheiros estão mantendo como reféns 29 operários russos de uma usina elétrica (e não 30, como vinham informando a imprensa russa). Eles foram sequestrados na terça-feira. O Ministério do Interior disse que está negociando sua libertação.
A reação violenta aos rebeldes causou indignação dentro e fora do país. O Parlamento Europeu emitiu uma resolução em que adverte que a crise pode afetar as relações entre a União Européia e a Rússia.
A presidência da União Européia pediu que o governo e os separatistas cheguem a um acordo para evitar mais violência.
O diário "Izvestia", o mais importante do país, acusou o governo de ter agido de forma desorganizada. Segundo Valeri Iakov, o governo mentiu ao dizer que os rebeldes estavam matando os reféns, justificativa do ataque. O jornal qualificou a intervenção na Tchetchênia de "ato terrorista".

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