São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 1996
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Acaba o sequestro no mar Negro

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os sequestradores do barco turco Avrasya se renderam ontem, anunciando ter atingido seu objetivo. O grupo (sete ou oito homens armados e com explosivos, a maioria deles de nacionalidade turca) tem ligação com os separatistas da Tchetchênia.
Eles ameaçavam explodir o barco se não pudessem chegar a Istambul, a maior cidade da Turquia, mas o governo do país não permitiu que o Avrasya entrasse no estreito de Bósforo carregado de explosivos. Havia cerca de 200 reféns a bordo, a maioria russos.
O estreito de Bósforo, uma das principais rotas marítimas do mundo, passa por Istambul e é a única ligação do mar Negro com o mar Mediterrâneo.
Ontem, após o barco chegar ao extremo do Bósforo no mar Negro, começou uma negociação que durou horas. Por várias vezes o Avrasya parou e retomou sua marcha, sempre escoltado por barcos da Marinha turca.
O presidente Boris Ieltsin, da Rússia, demonstrou irritação com a forma como o governo turco conduziu a negociação com os sequestradores. O barco ficou quatro dias em poder dos rebeldes.
Ieltsin disse, horas antes da rendição, que estava considerando a possibilidade de delegar à frota russa no mar Negro a responsabilidade por encerrar o sequestro -provavelmente à força.
Houve uma manifestação contra os russos na rua de Istambul, após a reza do meio-dia de sexta-feira (a mais importante do credo islâmico). "Deus dane os assassinos turcos", gritavam.
Há forte simpatia à causa separatista tchetchena entre os turcos. Ambos os povos são muçulmanos e a Tchetchênia fez parte do Império Otomano. Há uma grande comunidade de etnia tchetchena na Turquia.
No começo da noite, os sequestradores abandonaram o navio e foram levados para a costa, segundo as autoridades turcas. O governo ainda não havia decidido como os reféns seriam resgatados.
Horas antes da libertação, oito reféns, que estavam doentes ou feridos, foram resgatados. Entre eles estavam três russos.
No momento mais tenso do sequestro, os rebeldes diziam que libertariam todos os turcos e explodiriam o navio em frente a Istambul, em protesto contra a ocupação russa na Tchetchênia e ao cerco à cidade de Pervomaiskaia (Daguestão), onde rebeldes tchetchenos mantinham reféns.
O cerco a Pervomaiskaia foi encerrado anteontem. Pela primeira vez, Ieltsin falou ontem em morte de reféns: 24, "uma perda mínima", segundo ele. Havia cerca de 120 reféns na cidade.

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