São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 1996
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FHC e a eleição

FERNANDO RODRIGUES

BRASÍLIA - Seria bom que o presidente Fernando Henrique Cardoso falasse publicamente qual será a sua postura e a de seu governo durante as eleições municipais deste ano.
Até agora, há duas versões antagônicas sobre o que poderá acontecer em 3 de outubro: uma história contada pelo PMDB e outra pelo PSDB.
Para o PMDB, que foi paparicado a semana inteira pelo presidente, os ministros e outros integrantes do governo não vão subir em palanques na eleição. Peemedebistas eufóricos saíram de um almoço terça-feira com FHC e garantiram que o presidente concorda com essa neutralidade da sua equipe.
Na quinta-feira, à noite, FHC recebeu para um bate-papo integrantes da cúpula de seu partido, o PSDB. Os tucanos comemoraram na saída. "Os nossos ministros vão para o palanque, sim", disse a secretária-geral do PSDB, Moema Santiago.
Há duas questões a se considerar no caso da participação dos ministros. Primeiro, que é incorreto tolher os direitos de um político e impedi-lo de fazer campanha. Segundo, que um ministro num palanque representa muito mais do que o apoio de um político qualquer.
Tomemos José Serra, ministro do Planejamento, e a campanha para a Prefeitura de São Paulo. A não ser que seja ele próprio o candidato, e, portanto, um ex-ministro, Serra subindo ao palanque beneficiaria muito um concorrente à sucessão de Paulo Maluf.
Tudo indica que o Plano Real estará indo bem em outubro. Serra é um dos comandantes da equipe econômica. O eleitor saberá, ainda que de forma indireta, que o candidato tem ao seu lado um dos homens responsáveis pela liberação de dinheiro no governo federal.
FHC tem repetido apenas que ele, pessoalmente, não participará da campanha. No caso de seus ministros, o presidente deixou suas palavras serem interpretadas por partidos adversários, PMDB e PSDB.
Evidentemente que a presença de ministros em palanques ajudará os candidatos do governo. FHC sabe disso. Sobre a sua sucessão, afirma: "Quem eu apoiar, ganha".
A não ser que tencione adotar a máxima de Ricupero -"o que é bom, a gente fatura"-, FHC deveria esclarecer o assunto. Principalmente para o seu partido e seus ministros -pois muitos já estão com os discursos quase prontos.

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