São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 1996
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Médico brasileiro tratou Mitterrand

PAULO HENRIQUE BRAGA
DA REDAÇÃO

Um urologista brasileiro que cuidou de François Mitterrand afirma que é "completamente falsa" a afirmação do médico particular do presidente francês de que o câncer de próstata que o matou já o impedia de governar em 1994, último ano de seu mandato.
"Todas as vezes que conversei com Mitterrand ele estava muito bem, sob controle de tudo", disse à Folha o urologista Edson Pontes, que esteve no Palácio do Eliseu "umas oito ou dez vezes", entre 1991 e e o início do ano passado, para atender o presidente. "Ele governou até o fim."
Mitterrand morreu, no último dia 7 em Paris, em consequência de um câncer de próstata que se espalhou pelos ossos.
A afirmação de que Mitterrand era impedido de governar pela doença está no livro "O Grande Segredo", publicado semana passada. A Justiça, a pedido da família do presidente, tirou o livro de circulação na última quinta-feira.
Pontes, 53, naturalizado norte-americano, vive nos EUA há 29 anos e tornou-se médico de François Mitterrand por indicação do irmão do presidente, Robert, que foi operado por ele em 1988.
Ele leciona na Wayne State University e chefia o serviço de cancelorogia urológica do hospital Harper, de Detroit.
"Tenho boas relações com Gubler e acho estranho que ele tenha dito isso. O presidente tinha um câncer que não era mais curável, mas era tratável", disse.
Ele levanta a hipótese de Gubler ter publicado o livro por estar descontente com o afastamento.
"A minha impressão é que ele não gostou de ser afastado. Ele tinha relações pessoais boas com o presidente. Mas muitos assessores de Mitterrand talvez não soubessem da extensão do problema e tinham uma impressão negativa do trabalho de Gubler, não viam melhora no presidente."
O homeopata Philippe de Kuyper, que passou a tratar de Mitterrand após a dispensa de Gubler, em 1994, acusou Pontes de ter aplicado um tratamento de "quimioterapia desastrosa" que "destruiu" Mitterrand.
Pontes disse que as afirmações de Kuyper "não têm qualquer credibilidade". "O tumor do presidente não respondia mais ao tratamento com hormônios, por isso foi proposta a melhor quimioterapia oral possível", afirmou.
Segundo ele, o tratamento, apesar de debilitar o paciente, foi o mais ameno possível.
"Estive com ele um ano depois do tratamento e ele estava bem, até melhor do que eu esperava."

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