São Paulo, sexta-feira, 26 de janeiro de 1996
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Mercado segurador vive boom inédito

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Se houvesse uma apólice contra naufrágios de planos de estabilização, as seguradoras seriam as primeiras a adquiri-la. Não é para menos: embalado pelo Real, o setor de seguros iniciou o ano na maior agitação de sua história.
Enquanto celebram um faturamento de cerca de R$ 14 bilhões em 1995, 12% superior (fora a inflação) ao obtido em 1994, as empresas mexem-se para garantir o sucesso nos próximos anos. Com isso, a esperada onda de fusões e aquisições alastrou-se do sistema bancário para o de seguros.
"O setor vai crescer muito ainda e só comportará quatro grandes seguradoras. Estaremos entre elas", afirma José Luiz Osti Muggiati, superintendente da Bamerindus Seguros.
A Bamerindus deve fechar, no próximo dia 12 de fevereiro, uma associação igualitária com a gigante americana New York Life. A joint venture será especializada em seguros de vida.
O objetivo, segundo Muggiati, é reforçar a atuação do grupo paranaense no segundo maior ramo do setor, responsável por quase 17% das vendas no ano passado.
Além disso, a Bamerindus quer tornar-se sócia do Banco do Brasil na BrasilSeg. O maior banco do país procura parceiros para repassar os 51% do capital da empresa, recomprados de um ex-sócio iraquiano por US$ 3,5 milhões.
Na quarta-feira passada, a Bamerindus fez a proposta ao BB. Os três maiores grupos seguradores (Bradesco, Sul América e Itaú) também estão no páreo, crentes que será o melhor negócio do setor em anos -o BB tem um canal de distribuição invejável, com mais de 5.000 pontos-de-venda.
A seguradora do BB é pequena (48ª do ranking), com faturamento estimado de apenas R$ 15 milhões em 1995. Mas o negócio é considerado imperdível, pois o mercado espera um novo boom nos próximos anos e o BB, pelo tamanho e por estar se ajustando, teria participação fundamental.
O Banco Cindam, do Rio de Janeiro, foi escolhido pelo BB para encontrar um novo sócio para a BrasilSeg, num prazo de 90 dias.
"Nunca vi tanta agitação no setor como hoje", diz João Elíseo Ferraz de Campos, presidente da Fenaseg (Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização). "Tivemos desde a entrada do Real o melhor desempenho dos últimos 50 anos."
Segundo Campos, o mercado finalmente saiu de uma posição histórica de vendas em torno de 1% do PIB (Produto Interno Bruto), pulando para 2,4% em 1994 e para estimados 2,6% no ano passado.
Nos Estados Unidos, segundo o Unibanco, o mercado segurador equivale a 10% do PIB -o que dá uma idéia do crescimento potencial no Brasil se a economia continuar estável, avalia a instituição.
Para fazer frente ao novo desafio, o Unibanco reforçou-se em duas frentes: comprou por R$ 80 milhões, no último dia 19, 60,6% da Sul América Unibanco (joint venture com o Grupo Sul América) e adquiriu, em novembro passado, a Nacional Seguros, do extinto Banco Nacional.
Resultado: tornou-se um dos maiores grupos do setor, com faturamento total estimado em R$ 710 milhões em 1995.
A Icatu Seguros, por sua vez, optou pelo mesmo caminho trilhado pela Bamerindus: uma parceria internacional.
Na quarta-feira passada, a seguradora da família Almeida Braga anunciou a venda de 50% de suas ações para o grupo americano ITT Hartford Life International, especializada em seguros de vida e previdência privada.
"É a associação dos meus sonhos", disse Kati Almeida Braga, superintendente da holding do Icatu, ao anunciar a operação.
Em outro front, prepara-se para crescer no Brasil a Mapfre, maior seguradora da Espanha. A Mapfre está comprando do grupo Bunge o controle da Vera Cruz, 12ª maior do país em prêmios ganhos.

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