São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 1996
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FHC quer que Estado estimule empregos

GILBERTO DIMENSTEIN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI

Ao voltar a falar ontem sobre desemprego, o presidente Fernando Henrique Cardoso delineou três áreas que deveriam receber prioridade por absorverem mais mão-de-obra: micros e pequenas indústrias, obras públicas e construção civil. O Estado, portanto, passaria a ser indutor do emprego, complementando a economia de mercado.
O FHC aproveitou sua viagem a Índia para tentar ganhar ofensiva num tema que vem deixando acuado seu governo - o emprego. Ele quer desfazer a sensação de que, agarrado aos bons índices de inflação, descuidou de uma das cinco promessas de campanha.
Até agora, porém, essa ofensiva é apenas nas intenções. O Governo Federal apresenta déficits em seu orçamento, cresceu os pesos da dívida interna e da folha de pagamentos do funcionalismo. Não se sabe, assim, de onde vai sair o dinheiro para o estímulo as áreas de maior contratação de mão-de-obra.
Ele reconheceu que a economia de mercado sozinha não vai conseguir enfrentar o desemprego, fenômeno mundial, provocado pelas novas tecnologias e abertura do mercado, ou seja, a chamada globalização.
Com as novas tecnologias, a economia tem de crescer a taxas ainda maiores para gerar emprego. Mas devido as limitações da balança comercial brasileira (exportações insuficientes), o crescimento está limitado a 4%, insuficientes para absorver a quantidade necessária de mão-de-obra.
Na avaliação de assessores presidenciais, o prestígio de FHC está alto porque a população ainda valoriza a inflação baixa. Mas esse valor tem um limite; logo, menos gente vai começar a atenção em mais carências sociais e, de acordo com as pesquisas feitas pelo Palácio do Planalto, o desemprego está em primeiro lugar.
FHC está convencido de que, coma queda da inflação, o retrato real do país vai aparecer com todas as suas carências, o que exige uma resposta do governo, que enfrenta a falta de verbas e o desaparelhamento da burocracia.
O presidente avaliou também que não adianta ficar apenas culpando a globalização, palavra que pouca gente - e quem entende geralmente está empregado. O desemprego afeta setores formadores de opinião, já que atinge as camadas mais organizadas de trabalhadores, o que tende a ser ressaltado em campanhas eleitorais, como neste ano.
O presidente tem tentado relacionar sua diplomacia com o emprego. Ele se comporta nos encontros com empresários como um vendedor do país, quebrando barreiras e abrindo espaço para exportações brasileiras. Daí sua ênfase na Ásia, o mercado mais efervescente do planeta.
Essa ênfase ficou nítida no discurso do jantar ontem oferecido pelo presidente da Índia, Shanker Sharma. FHC propõe que os dois países enfrentem juntos os desafios a globalização. "Poucos países apresentam tamanho potencial inexplorado em suas relações bilaterais como Brasil e Índia".
Ele defende o maior envolvimento de empresários nessa aproximação, o que, traduzindo, significa a possibilidade de entrar num mercado com 150 milhões de integrantes da classe média, crescendo 5% ao ano.

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Sobre a Índia à página 2-8

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