São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 1996
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Descrição de fatos; Livros; Poder da TV

Descrição de fatos
"Na edição do dia 25 de janeiro, página 1-4, a descrição dos fatos não correspondeu à verdade dos acontecimentos. Especificamente, essa seguramente inédita ocorrência se deu no subtítulo 'Acusação é chantagem, diz Motta', da reportagem intitulada 'Governo quer liberar tele de concurso, licitação e controle'. A narrativa em questão foi conduzida dissociada da verdade no subtítulo e em seu texto correspondente. A dissociação, flagrada pela gravação de 'monitoramento' feita pela assessoria da Liderança do Partido Liberal, se deu quando da oportunidade da entrevista coletiva concedida pelo ministro Sérgio Motta, nas dependências do Congresso Nacional, dia 24 último. De acordo com as palavras pronunciadas pelo ministro, gravadas em toda a sua extensão, o título 'Acusação é chantagem, diz Motta' e o texto correspondente estão em desacordo com a declaração do ministro, que foi taxativo ao retificar que as denúncias de corrupção feitas por este deputado contra o ministro não diziam respeito a supostas chantagens mencionadas na mesma oportunidade. Portanto, ao reiterar que a Folha e suas empresas constam entre os sinônimos de verdade e imparcialidade neste país, lamentamos, todavia, que o conceito de reportagem (definido pela página 42 do 'Novo Manual de Redação Folha de São Paulo, 5ª edição') não tenha sido perseguido com o rigor costumeiro."
Valdemar Costa Neto, deputado federal líder do bloco PL/PSD/PSC (Brasília, DF)

Resposta da jornalista Daniela Pinheiro - Em 16 de janeiro, o deputado Valdemar Costa Neto declarou, em entrevista coletiva, ter sido "enganado" pelo ministro Sérgio Motta, que se negou a nomear seu amigo, Sílvio de Carvalho Vince, para a diretoria da Telesp. Sobre as denúncias feitas pelo deputado, Motta disse: o governo "não se renderá a chantagens, não fará nomeações inadequadas". A negativa posterior foi apenas uma tentativa do ministro de evitar maiores atritos com o deputado, procurando não se referir diretamente a Costa Neto.

Livros
"É no mínimo estranho o tratamento dado pelo sr. Elvis Cesar Bonassa à questão dos preços dos livros no Brasil. Como editor da Nova Fronteira preocupa-me que a desinformação possa gerar a impressão de ganhos exagerados ou incoerência com a realidade brasileira. Não é isso o que ocorre. Existem preços conhecidos de papel, impressão, revisões, descontos para livreiros e prazos de vendas. Existe o risco, existem estruturas empresariais para sustentar toda a operação. Isso interessa? Por que a editora 'darling' da Folha, a que recebe maior espaço de divulgação, com oito títulos entre os mais vendidos na lista do caderno Mais! e com os preços mais elevados do mercado não é citada na reportagem? Que critério foi utilizado? Se, como conclui o repórter, só a economia de escala, por meio de tiragens elevadas, permite a redução dos preços, é nos sucessos, nas tiragens elevadas que se encontram as distorções. Um livro com tiragem de mais de 100 mil exemplares custar R$ 24,00 não faz sentido, ou será que faz? Podemos admitir que sim se forem esses mesmos sucessos que financiem toda a linha de lançamentos que eventualmente não obtenham resultados favoráveis. A única solução encontrada até hoje nos países desenvolvidos foram as edições de bolso e as tiragens elevadas. Ou seja, mercado forte. Sugiro que sejam feitas analogias com países de situação similar à nossa, como Portugal, Espanha, Argentina, México ou Índia, considerando-se lançamentos nacionais e traduções em brochura e não 'pocket books'."
Carlos Augusto Lacerda, editor da Editora Nova Fronteira (Rio de Janeiro, RJ)

Resposta do jornalista Elvis Cesar Bonassa - Os argumentos do sr. Carlos Augusto Lacerda são os mesmos apresentados por todos os representantes de editoras ouvidos pela Folha, incluindo o diretor comercial de sua própria empresa, sr. Elson Rocha, cujas explicações foram reproduzidas junto à reportagem. Ele só não explica por que "O Sorriso do Lagarto" (João Ubaldo Ribeiro), em edição normal por sua editora, é mais caro (R$ 27) do que uma edição de luxo, em capa dura, no exterior (R$ 20,58). Os critérios usados foram a disponibilidade, nas livrarias, dos mesmos títulos importados e nacionais, sem preocupação em citar essa ou aquela editora.

Poder da TV
"Causou-me espanto a opinião do Conselho Editorial da Folha (13/1) quanto à questão da censura de cenas explícitas de sexo às 20h, na TV (Rede Globo). É uma total falta de discernimento comparar isso à suspensão do livro sobre a vida de Garrincha e letras de músicas tocadas no rádio. Sabemos do poder da TV, que está presente num simples boteco da esquina, numa sala de consultório, num pátio de recreação e até mesmo numa praça pública (como em algumas pequenas cidades), visível para qualquer um, inclusive crianças e adolescentes. E para piorar, esses programas que inicialmente passam à noite, depois de alguns poucos meses passam à tarde! O que me deixa perplexa e triste é perceber que a imprensa e o órgão responsável (Ministério da Justiça) perderam a capacidade de diferenciar a influência maléfica da TV daquela construtiva, sob a alegação da volta da censura ditatorial. Desligar a TV pode ser uma solução, mas melhor seria se pudéssemos confiar no que é apresentado às crianças e adolescentes, num horário compatível."
Isabel Barroso (João Pessoa, PB)

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