São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Daniela Mercury volta lenta e romântica

MARISA ADÁN GIL
DA REPORTAGEM LOCAL

É um evento raro. Antes mesmo de chegar às lojas, "Feijão com Arroz", o novo disco de Daniela Mercury, já conta com uma das músicas mais executadas no país.
"À Primeira Vista" não é apenas o maior hit da trilha-fenômeno "O Rei do Gado" -que já vendeu 2 milhões de cópias, segundo a gravadora Som Livre.
É também o marco de uma nova fase da cantora. "Estou com menos pressa", diz Daniela.
"Há uns dois anos, teria lançado o disco com 'Rapunzel', ou outra música dançante", diz. "Mas, agora, não tenho mais necessidade de provar nada."
A segunda música a ser trabalhada nas rádios será "Nobre Vagabundo", um reggae romântico que começa com vocais à capela. "O disco vai chegar devagar", diz.
Lições do estrelato: entre 1992 e 1993 (época do disco "O Canto da Cidade"), a cantora foi alvo de uma das maiores superexposições da música brasileira.
"Não acho que isso vá acontecer de novo", diz Daniela, onipresente em 96 com "À Primeira Vista."
"Desta vez, o que está em foco é a canção. É a melodia que comove. Podem enjoar da música, mas o disco tem outras canções."
O Carnaval, afirma, está no sangue. "Ainda quero fazer as pessoas dançarem." Por isso, chegou a pensar em lançar um CD duplo, "um com músicas lentas, outro com as dançantes". Acabou ficando no CD simples -com 15 faixas.
Dueto
Uma aposta fácil de hit é "Minas com Bahia", com letra de Chico Amaral e participação de Samuel Rosa, ambos do Skank.
"Os meninos gravaram uma fita demo e mandaram para mim", conta Daniela.
A cantora mudou o arranjo, mas resolveu incluir os vocais de Samuel. "Não queria que tivesse o som do Skank, mas o Samuel estava cantando superbonito."
Carlinhos Brown é autor de duas faixas: "Rapunzel", em parceria com Alain Tavares, e "Vide Gal", exaltação ao Rio.
Versos como "Essas flores/ na Rocinha vou plantar" pretendem, segundo Daniela, resgatar a relação dos moradores com a cidade.
"A barraca também é lar, motivo de orgulho", diz. "Isso tem que ser respeitado."
Ponte
A maior curiosidade de "Feijão com Arroz" e a inclusão da antropológica "Você Abusou", de Antônio Carlos e Jocafi.
O objetivo é claro: Daniela espera que a música sirva como ponte com o mercado internacional.
Artistas como Célia Cruz e Stevie Wonder costumam incluir a canção em suas apresentações.
"Lá fora, é considerada um standard, uma das nossas melhores músicas", diz Daniela.
O novo CD será lançado nos EUA, Europa e América Latina -em alguns países, "Você Abusou" terá versão em espanhol.
O samba-bossa virou samba-reggae. "Quis colocar alegria naquela melodia melancólica."
Neguinha
Na capa de "Feijão com Arroz", Daniela abraça um modelo negro, em foto de Mário Cravo Neto.
Daniela, que já foi chamada de "a neguinha mais branquinha da Bahia" (pelo compositor Guiguio), diz que a foto sintetiza seu trabalho. "Sou uma cantora branca no universo dos blocos afro."
O disco pode não estourar lá fora, mas tem boas chances de superar seus antecessores -"Música de Rua", de 1994, que vendeu 650 mil, e "O Canto da Cidade", de 1993, que chegou a um milhão.
A turnê só chega às capitais em dezembro. No palco, Daniela pretende assumir uma volta às raízes. "Vai ter percussão no palco e dançarinas negras", diz.
A cantora também pretende diminuir a distância entre palco e platéia. "Quero recuperar a proximidade com o público."

Disco: Feijão com Arroz
Artista: Daniela Mercury
Lançamento: Sony Preço: R$ 18 (o CD, em média)

Texto Anterior: Carmen vira história
Próximo Texto: CD vai além do Carnaval
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.