São Paulo, sexta-feira, 4 de outubro de 1996
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Louise Bourgeois aprisiona os fantasmas femininos em obra

DA REPORTAGEM LOCAL

Louise Bourgeois diz a quem a visita em seu ateliê em Nova York que, ao contrário da maioria das mulheres, não gosta de comprar roupas. Conta que foi vestida primeiro pelo pai, depois pelo marido e agora por um assistente.
É com essas roupas -vestidos, camisolas e calcinhas de seda- que Bourgeois criou a instalação "Célula de Roupas", feita especialmente para a Bienal (leia ao lado o que é instalação).
Aos 84 anos, essa artista francesa radicada nos EUA usa a própria biografia para falar de fantasias e traumas femininos.
É uma das primeiras artistas a falar de sexualidade a partir do ponto de vista da mulher. O que emerge na obra é um mundo nada cor de rosa.
Em entrevista a Paulo Herkenhoff, curador da sala especial na Bienal, Bourgeois disse que a base de sua arte são as "motivações da infância": "Minha infância nunca perdeu sua mágica, nunca perdeu seu mistério e nunca perdeu seu drama".
Ela nunca explicou claramente o que seria o drama, mas já sugeriu ter sido violentada pelo pai na infância. Foi nessa época, também, que a imagem de uma amante do pai começa a persegui-la.
Todos esses fantasmas foram aprisionados em seus trabalhos. Ela mesma já escreveu que a arte é garantia de sanidade.
Mundo primitivo
A esse viés psicanalítico, Louise Bourgeois junta imagens das primeiras obras de arte que se tem notícia. Faz esculturas em mármore e bronze similares às deusas do amor em forma de falo criadas na Grécia e no Oriente Médio há mais de 3 mil anos.
Ou junta uma dezena de seios numa escultura que estará exposta em São Paulo, como se fosse uma artista fora da civilização.
Combina imagens de violência e ternura em seus trabalhos, nas quais é quase impossível separar um elemento do outro.
"Aranha" (1993), uma escultura com cerca de três metros de altura que está na Bienal, é assim.
Estão lá as patas ameaçadoras da aranha, sob as quais o público pode passear. Há, porém, uma sensação de ameaça e de acolhimento ao mesmo tempo.

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