São Paulo, sexta-feira, 4 de outubro de 1996
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Região não é SP, "amaldiçoam" alguns eleitores

Luz elétrica chega de forma clandestina

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Atolado na lama da sua rua, na extrema zona leste de São Paulo, o baiano Gelson Almeida, 59, sai de casa amaldiçoando tudo que é político deste mundo.
Basta uma olhada rápida nos arredores para entender o desabafo do eleitor: onde ele mora não existe a presença de governo nenhum. Até a luz elétrica só chega de forma clandestina, puxada dos postes sem a autorização do poder oficial.
"Isso aqui não é São Paulo nem nunca será", diz Almeida, antes de entrar em um boteco para "criar coragem" de votar. "Só bebendo mesmo". Ele mora nos grotões de Lajeado, definido pelo Mapa da Exclusão da Cidade de São Paulo como o lugar de pior índice de qualidade de vida. Este documento foi feito pela PUC (Pontifícia Universidade Católica), a partir de dados estatísticos do IBGE, prefeitura e governo estadual. Assim como Almeida, o seu vizinho Pedro Antonio de Souza, 23, paulista, pedreiro, está desencantado, não revela o seu voto, mas esbanja indignação.
"Se eu chegar limpo no lugar de votar, eu voto", diz. "Se eu chegar sujo de barro eu anulo tudo", prometeu, antes de confessar não saber como anular o voto na urna eletrônica.
Os ratos
Em algumas áreas de Guaianazes, também na zona leste, a preocupação é com a invasão dos ratos. "A gente não pode nem deixar as crianças brincando por aí", relata o desempregado Armando Silva, 25.
Cabo eleitoral do PDT e de olho em uma candidatura nas próximas eleições, Silva liderava na manhã de ontem, debaixo de chuva e tudo, um grupo de moças envolvidas na operação de boca-de-urna.
"O político que acabar com esses ratos vai ser endeusado aqui na região", declara a paulistana Maria Cristina Souza, 17, moradora de um barraco às margens de um córrego.
A chuva que ampliou o caos nos bolsões de miséria da cidade mais rica do país ajudou a consolidar o voto de muita gente ontem, segundo os comentários ouvidos em portas de seções eleitorais da periferia. Havia explicação para justificar qualquer tipo de voto. Para uns, somente Pitta, com as chamadas obras de "piscinões", resolveria o problema.
Ataques
Outros, mais inflamados, atacavam o prefeito Paulo Maluf e o seu candidato Celso Pitta (PPB), saindo na defesa de Luiza Erundina (PT), José Serra (PSDB) e, raramente, Francisco Rossi (PDT).

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