São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
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UMA CHANCE PARA A PAZ

A cúpula entre o presidente Clinton, o líder palestino Iasser Arafat, o rei Hussein da Jordânia e o primeiro-ministro israelense Netanyahu, realizada em caráter emergencial em Washington na semana passada, foi avaliada pela maioria dos observadores como inócua. Henry Kissinger, principal autoridade em relações externas dos Estados Unidos no governo republicano de Richard Nixon, declarou que o envolvimento do presidente dos EUA é prematuro.
Mas o mesmo Kissinger, que afinal não poderia elogiar a política externa de um democrata em plena campanha eleitoral, afirmou em entrevista à CNN que um resultado da cúpula é que os setores palestinos mais radicais ficam, senão imobilizados, pelo menos mais constrangidos a realizar a negociação pacífica. O que não é pouco, em vista da convocação feita pelas lideranças do grupo radical islâmico Hamas para um confronto total com o Estado israelense.
O mais marcante, entretanto, é até agora mais uma vez a explicitação da fragilidade da Autoridade Palestina, que tende a aumentar quanto mais emocional se torna o processo. E negociar numa posição de fragilidade não é fácil quando a contagem dos cadáveres aumenta de lado a lado.
A rigor, o futuro da renegociação do processo de paz no Oriente Médio parece estar mais no empenho dos EUA do que na disposição das partes em conflito. Netanyahu tem sido extremamente duro e desrespeita acordos que já tinham sido firmados.
Em Washington, um Clinton atento a seu futuro eleitoral, e que contava com a paz no Oriente Médio como trunfo, deverá dar novas mostras, inclusive financeiras, de que os EUA serão os avalistas da negociação.
Assim talvez se compreenda a emoção com que o próprio presidente dos EUA conclamou as partes a retomar conversações. Na sua entrevista coletiva após a cúpula, Clinton repetiu com ênfase o pedido de tolerância. "Please, please", disse Clinton, ressoando, em outras circunstâncias, a célebre frase de John Lennon: "Give peace a chance" (dê uma chance para a paz).

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