São Paulo, terça-feira, 8 de outubro de 1996
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Escritor era líder natural dos Pranksters

ADRIANE GRAU
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM SAN FRANCISCO

Ken Kesey tinha 26 anos quando se ofereceu como voluntário para experimentar drogas para pesquisas do Governo dos EUA na Universidade de Stanford (Califórnia), onde fazia pós-gradução em literatura em 1961.
Na época, já era pai de três filhos e casado com Faye Haxby há cinco anos. Estava terminando de escrever "Estranho no Ninho", que dez anos depois já havia vendido mais de um milhão de cópias.
Em 1964, seu colega em Stanford Ken Babbs voltou da Guerra do Vietnã. Ele e Kesey começaram a planejar uma viagem de carro até Nova York, para festejar a publicação de "Sometimes a Great Notion", o segundo livro de Kesey.
Amigos e conhecidos acabaram se unindo à dupla, e Babbs descobriu que um ônibus escolar feito em 1939 estava à venda. Kesey comprou o veículo por US$ 1.500 em nome de Intrepid Trips, Inc.
Batizado de Furthur e pintado em cores psicodélicas, o exótico veículo se tornou a casa ambulante para "uns 30" cidadãos que se tornaram os Merry Pranksters.
Quando caíram na estrada, com a geladeira abastecida de LSD diluído em suco de laranja, eles logo se tornaram alvo de investigações do FBI e perseguições.
Pelo imenso teto solar que substituiu parte da capota, saía o som de alto falantes divulgando a acid music: guitarras distorcidas e tambores ancestrais. Câmeras captaram 40 horas de imagens.
Kesey era o líder natural e carismático da intrépida trupe. Por onde passava criava nos jovens o desejo de cair na estrada e descobrir a vida por meio de alucinógenos.
Tanto carisma e poder se tornaram logo uma ameaça à ordem reinante. Em abril de 1965, ele foi preso por porte de maconha. Mas só um ano depois, quando foi considerado culpado, é que resolveu fugir para o México.
Em outubro de 1966, foi preso pelo FBI após retornar ao país. Acabou ficando por um ano na prisão, onde escreveu o diário que batizou de "Cut the Mother Fuckers Loose".
Segundo Kesey, ele só conseguiu escrever suas memórias na cela porque os guardas não entendiam as letras distorcidas e as imagens coloridas que preenchiam as páginas. O livro será publicado no ano que vem. As páginas cedidas para a Folha pela Key-Z Productions são inéditas.
(AG)

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