São Paulo, quarta-feira, 9 de outubro de 1996
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Carne de tartaruga volta ao cardápio

ANDRÉ MUGGIATI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

Uma portaria assinada pelo presidente do Ibama, no dia 22 de agosto último, pode trazer a carne de tartaruga, muito apreciada no Norte do país, de volta para a mesa do brasileiro.
A portaria regulamenta a comercialização da carne de tartaruga-da-amazônia e tracajá, quelônios que vivem em água doce no Norte e Centro-Oeste do país, desde que criados em cativeiro.
Continua proibido, porém, o comércio de tartarugas marinhas.
A venda de carne de tartaruga estava proibida desde 67, quando esse animal foi considerado em processo de extinção.
Segundo o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), já há nove criadores de quelônios de água doce na Amazônia.
Até agora, apenas três criadores foram licenciados pelo Ibama para vender a carne de tartaruga. Outros 30 deverão ser autorizados em até três anos, prazo mínimo estipulado pelo órgão para que os filhotes se tornem adultos.
Atualmente, os filhotes para a criação são cedidos pelo Ibama.
O instituto quer estimular a produção em cativeiro para que diminua a caça dos animais. Além da tartaruga-da-amazônia, também é permitida a criação do tracajá.
A criação pode ser feita utilizando-se um espelho de água em tanques ou riachos represados.
"Estes animais precisam da água para umedecer o corpo", diz Agenor Vicente da Silva, coordenador do projeto de preservação de quelônios do Ibama.
Um hectare (10 mil m2) de espelho de água permite a criação de 1.800 animais.
Os filhotes são larvófagos, isto é, se alimentam de larvas. Após alguns meses, os animais passam a se alimentar de carne e vísceras. A alimentação deve ser enriquecida com cálcio para a boa formação dos cascos.
Os animais adultos são onívoros e, além de carne, comem frutas e vegetais.
O Ibama está autorizando o abate de animais com pelo menos dois anos de idade ou 1,5 kg. Pelas normas do Ibama, o produtor pode vender até 90% da criação.
Os outros 10% deverão ser preservados para a formação de um plantel para reprodução. Deve ser separado um macho para cada duas fêmeas.
O objetivo é que, aos poucos, os criadores passem a dominar as técnicas de reprodução no cativeiro, não precisando mais do fornecimento de filhotes.
O Ibama só renovará a licença dos criatórios caso todas as determinações sejam seguidas à risca.
Os criatórios estão servindo como laboratório para identificar o comportamento destas espécies em cativeiro.
"Com alimentação mais farta que na natureza e sem a presença de predadores, em cativeiro os animais podem se desenvolver melhor e mais depressa", afirma Pedro Sampaio, um dos criadores autorizados.

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